sábado, 28 de maio de 2011

Seus olhos quase fechados, vermelhos, sua fala desencontrada, arrastada, e seu andar descompassado, denunciavam: apanhou uma tosga. Tosga, bebedeira, pileque. A graça e a desgraça de tomar uns copos.

Pé na Terra

Instrumentos tradicionais da música portuguesa, entre percussões, um baixo-eléctrico e uma guitarra electro-acústica: “os Pé na Terra entendem e bem, que o tradicional não se baseia apenas na recolha. Para além de criarem, recriam e homenageiam" (Rádio Universitária de Coimbra - Retirado do Site dos Pé na Terra). O folk com caras novas e tons contemporâneos, em músicas das boas! Pé na Terra.



Em Portugal, cu é bunda, e não ânus. Sem rodeios: cu. Se no Brasil a palavra causa furor, por deixar à vista um furo de que muito nos envergonhamos, por terras lusitanas o monossílabo não é tabu: "mexe este cu!" e "bate-cu" são expressões correntes, que não agravam pudores. O causo já é velho conhecido de brasileiros, mas vale ser lembrado, para que nenhum cu aqui cause embaraços.

Peste e Sida

Punk Rock português da década de 80 - 25 anos de estrada e um EP lançado há pouco. Se antes iam de carocha para o sol da Caparica, hoje, para o entusiasmo da Massa Crítica, vão de bicla. Novos tempos! Peste e Sida.



"O gajo passou a tarde a mandar bitaites", disse-me, chateada com a arrogância parva de quem se arvora a saber de tudo. "Antes houvesse uma prova da Ordem para o exercício dos livres-pensadores", completou com gracejo e ironia. E eu a pensar nos bitaites: de facto, cabem na boca de todos, e a palavra tem um quê de petisco, talvez de bitoque, partilhada sem compromisso em mesa de amigos. Dessas opiniões intrometidas, pouco fundamentadas, vestidas de palpites. No Brasil, tão comum é o dar pitacos. O que acham?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pedro Abrunhosa

Já foi o Rei do Bairro Alto, e com Lenine teve o diabo no corpo. Cantor mainstream, com músicas a se repetirem nas rádios portuguesas: vamos fazer o que ainda não foi feito? Pedro Abrunhosa.



quarta-feira, 25 de maio de 2011

- Fazes tudo às mijinhas, disse-me.

Logo entendi, inclinado que sou a fazer tudo pouco a pouco.

Cuca Roseta

Uma das novas vozes do fado, com os Toranja no currículo. "O fado de Cuca é um fado com clara inclinação para a canção, suficientemente confortável com a sua imagem ao espelho para aceitar que não há promiscuidade alguma em convidar a guitarra portuguesa para a sua intimidade e, ao mesmo tempo, não fechar a porta ao passado pop" (Crítica Ipsilon - Gonçalo Frota). Cuca Roseta.



terça-feira, 24 de maio de 2011

"Sabe bem estar contigo", "sabe bem pagar tão pouco", "sabe bem um gelado neste calor", "sabe bem aquela saia em ti", "soube-me bem ter ido à praia". A expressão, corrente em Portugal, causa algum ruído em ouvidos brasileiros: "sei bem o quê?". Não, não sabes: "sabe bem" é frase de apreço - algo que apetece ou entusiasma. Sabe bem saber bem, então.

Quinta do Bill

"Quinta do Bill é o nome do colectivo folk/rock português formado em 1987. A banda é caracterizada por um estilo próprio, ecléctico, mas facilmente distinguível, com influências diversas, sendo a mais óbvia a da música tradicional celta, muçulmana e ameríndia" (Jornal de Notícias, 19/12/06). Talvez seja. Vai e sê feliz, então!



- Um balúrdio!, protestou, sobre o valor da coima (multa).

Não fossem os bravejos, ou os resmungos nos olhos da cara, a palavra não (me) teria o seu valor exacto. Restou-me concordar: porra, uma puta grana.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Peixe:avião

"Quem não ouve peixe:avião é menos feliz" diz valter hugo mãe. Outros já os compararam com Radiohead, pela "sonoridade" de suas músicas. Exagero? Eis a banda de Braga, muito prestigiada pela crítica portuguesa, peixe:avião.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

"Vi muitos carochas em teu país!". Não, a frase não é ofensa. O Carocha, em Portugal, é o velho e guerreiro Fusca, no Brasil.

Atlantihda

"A história dos Atlantihda é contada por seis músicos e uma fadista. Oriundos dos mais distintos géneros musicais, os Atlantihda viajaram pelo mundo da música nacional e internacional, absorvendo várias influências para se encontrarem num projecto que acabaria por ligar a música de raiz tradicional e rural, com aquela que é a nossa música popular urbana: O Fado" (HM Música). Ei-los:

terça-feira, 17 de maio de 2011

- Chegaste um pinto, pá!

Fosse no Brasil, desconfiar-se-ia uma entrega de sex-shop à porta de casa, e não um rapaz em galochas, ensopado, como um pinto molhado, a se desfazer com a chuva.

Delfins

Depois de 25 anos de estrada, na passagem de 2009 para 2010, em Cascais (cidade onde se formaram), os Delfins se despediram do público. Eis o fim, nada trágico, de uma das principais bandas de pop-rock português dos anos 80/90. Delfins!



Um grande desenhista de quadrinhos (HQ), no Brasil. Um grande desenhador de bandas desenhadas (BD), em Portugal.

Real Combo Lisbonense

Músicas de salão, bailes de clube ferroviário. Som dos bons, em combo sortido, real e lisbonense. Real Combo Lisbonense!



A palavra veio como um susto, contada por amiga de ouvidos curiosos, em conversa sobre nossas línguas: catrapiscar. Catrapiscar. Verbo antigo, quase caduco, desconhecido por muitos portugueses, que já não mais catrapiscam. Hoje, em calão jovem, na (con)descendência moderna do catrapisco, há que diga "bater o couro" (ainda prefiro a catrapiscagem). No Brasil, há muito se paquera.

Catrapiscar, canção catrapiscada de David Antunes, em programa de família, às "5 para meia noite".

sábado, 14 de maio de 2011

Doismileoito

"Doismileoito é resultado de uma banda que se fechou durante meses numa cave, a experimentar música e a ouvir canções. Quando de lá saiu, começou a ouvir os comentários do mundo exterior. E parte do mundo exterior não demorou no diagnóstico: eis os novos Ornatos Violeta, disseram-lhes. E eles, que fazem questão de acentuar o quanto prezam os autores de 'O monstro precisa de amigos', que não se importam que lhes digam que prosseguem num 'caminho que os Ornatos deixaram em aberto', irritam-se porque a comparação lhes parece pouco fundamentada - um reflexo da inexistência de referências para este rock cantado neste português" (Ipsilon, 30/01/09). Doismileoito, por extenso e tudojunto. Ei-los:



Eis o verão, em céu e fonemas. Verão. Em Portugal, o E fraco se esconde tímido, em malemolência de não-pronúncia, à sombra da sílaba tônica: VRÃO – ao contrário do verão brasileiro, em que a vogal átona E, vistosa, exibe-se toda à palavra: VE-RÃO. Assim em FELIZ ("F'LIZ"), PELADO ("P'LADO"), QUERIDO ("QU'RIDO"/"CRIDO"), QUERER ("QU'RER"/"CRER"), OPERAR ("OP'RAR") ou DIFERENTE ("DIF'RENTE”). Diferenças que vêm à tona no dizer de algumas vogais átonas, no Português europeu: reduzidas, como a quererem escapulir, impercebidas, da fala. Eis um traço, no canto da prosódia, que engraça um desencontro de nossas línguas, "f(a)ladas".

Ana Moura

"Falar de Fado, é falar de uma voz límpida e intensa, é falar do que mais de genuíno se faz em Portugal ao som das tradicionais guitarras, sem grande pompa e circunstância, apenas com o sentimento e a paixão presentes. Ana Moura é um bom exemplo do que o nosso país tem para oferecer a todos, numa altura em que corremos as bocas do mundo derivado à nossa situação actual. Natural de Coruche, Ana Moura conta com uma carreira invejável, reconhecida quer em Portugal quer no estrangeiro deixando atrás de si um rasto de salas esgotadas" (Sapo Música, 16 de abril de 2011). Ana Moura!

Espantam-se alguns portugueses com a culinária baiana, em pratos de valer piadas. Bobó, em Portugal, é calão para sexo oral, e "dar uma queca" é trepar, na lasciva brasilidade da palavra. Para ouvidos desavisados, então, "quer um bobó?" talvez pareça convite, enquanto moqueca pode não soar fixe, nem peixe.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

João Coração

Um músico da linhagem AmorFúria/FlorCaveira, "trovador, voluntário, impetuoso, viola ou bandolim em punho, queixo erguido, entra pelos ouvidos e instala-se nos ossos" (Centro Cultural de Lagos - Site). A ver Sofia Coppola, João Coração:



domingo, 8 de maio de 2011

Breve diálogo hipotético de diplomacia:

- Então, tudo sob controle? Pergunta Dilma Roussef.
- Não, nem sob controlo, responde José Sócrates.

Trabalhadores do Comércio

Grupo dos anos 80, com um humor quase escrachado, e um puto (guri/piá) a cantar e tocar. Um "rock irónico para tempos modernos", como também se definem. O rapazinho (João Médicis), na época com menos de 10 anos, hoje está crescido, sem cabelos, e de volta à banda. Os outros (Sérgio Castro e Álvaro Azevedo), já adultos na época, continuam com o grupo, que agora conta/canta com novos braços e vozes. Bué da fixe! Trabalhadores do Comércio!



sábado, 7 de maio de 2011

Antes de chegar a Lisboa, chamavam-me a atenção os encontros consonantais do português europeu: dialecto, recto, acto, objecto, jacto, actual. Em e-mails trocados com uma universidade portuguesa arrisquei-me, então, a manejar os Cs, em consciente desacordo ortográfico, pela vontade de conquistar a simpatia de uma desconhecida, mas muito solícita, funcionária da secretaria. "Gostava de saber sobre o calendário lectivo", "envio o projecto em ficheiro anexo": fartava-me em portugalidades, como um Odorico Paraguaçu a se aventurar em língua estrangeira. Divertia-me, é facto. Houvesse consoantes a pedirem, eu logo remendava - implacável - um vitorioso C. Aguardei a selecção, fui aceite. As informações, muito breve, foram logo enviadas. Sorte. Mais alguns e-mails, desconfio, estaria a perguntar sobre pagamenctos.

Os Golpes

"A banda, oriunda de Lisboa, afirma não só uma forma de fazer música rock muito portuguesa, como vinca uma portugalidade que não se via desde os Heróis do Mar: a iconografia das fardas, a cruz de Cristo, um primeiro teledisco filmado em Alter do Chão (vila alentejana sobejamente conhecida pela sua coudelaria, fundada no século XVIII por D. João V, com vista à criação de cavalos de raça lusitana para a picaria real) e até a utilização da grafia róque e pópe para confirmar esta ideia" (Rua de Baixo, nº 45, junho de 2009). Em "Vá lá senhora", a participação do Herói do Mar Rui Pregal da Cunha. Os Golpes!



No Brasil, expressões como manja?, saca?, sabe?, tá ligado?, viu?, né? (não é?), cutucam o outro como a pedir uma confirmação, silenciosa, de que ele está atento. Eis a função fática da linguagem, a chamar a atenção do interlocutor, amarrando-o à conversa: uma forma de nos certificarmos, no imediato da fala, de que do outro lado há olhos e ouvidos a postos, para mantermos e encaminharmos o discurso. Em Portugal, muito corrente é o uso do estás a ver? (tás a ver?) como cimento de conversação: "ontem fui à Baixa, estás a ver?", "A rapariga estará lá, tás a ver?". A frase é dita em trânsito livre entre o "formal" e o "coloquial", em diferentes sítios (lugares) e momentos, saca? Que estejamos todos a ver os recursos da língua, então, para que dela possamos melhor nos servir, não é?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Caruma

Foi amor à primeira vista. Agora, a fartar-me de ouvir, e "reouvir", com aquele deslumbramento de quem acabou de se encantar com algo novo. "Poderiam ser histórias exclusivas de Alfama ou de Santos, de Marvila ou Bairro Alto, mas não são. Poderiam ser histórias exclusivas de amor engano, de paixão embuste, ou taberna madrugada, mas não são. O território dos Caruma abrange imensas freguesias, e o seu universo é mais amplo que os motes que sugerem. O português vernáculo, escolhido a dedo entre o rico léxico da nossa língua, é aqui irónico, reactivo, mordaz, insinuante, provocador (...)" (Santos da Casa, 13/09/10). Som bom para alimentar a alma, A Caruma!



Um carro descapotável (conversível) para as horas de ponta (horários de pico/horas do rush) até que cairia bem ao céu de Lisboa, não? Mas se se aperceber em síndroma (síndrome) de novo-riquismo, resista e contente-se com um simples trotinete (patinete): talvez uma solução ainda melhor para um fim de tarde em engarrafamentos.

Feromona

Um "indie rock" português, com letras e melodias das melhores. Das bandas que conheci cá, está entre as que mais tocam em meu MP3. "Vais de consulta em consulta / Mas nada disto resulta / E então aderes a outras modas mais em voga / Que convertem gente culta / Juntas-te ao culto do yoga / (...) Psicologia, factor de stress / Esquizofrenia é uma mania / Dá em gente com um ego que aborrece / Há tanta coisa que enlouquece!" (Psicologia). Feromona!



Fixe, porreiro e giro: desconfio que sejam as primeiras palavras lusitanas a entremearem o português brasileiro, no processo de aclimatação da fala. Parecidas com maneiro, da hora, massa, tri ou legal, aparecem aos montes, misturadas ao texto verde e amarelo dos "brazucas", como um pidgin de calões a mestiçar enunciados. "Cara porreiro!", "fixe, mano!": não raro são as misturas em falas migrantes. Eis a graça das línguas, das trocas, dos contactos. Giro, meu!

Uxu Kalhus

Estilos ao liquidificador, em uma mistura boa de adjetivos. Música tradicional-folk-rock, com influências afro-jazz-ska: "Malhão, Viras, Corridinhos, círculos, mazurcas, chotiças, e muito mais, com a pureza acústica e a potência eléctrica. Harmonias arrojadas e arranjos endiabrados são a imagem de marca do grupo" (blog Uxu Kalhus). Uxu Kalhus!



"Água fresca ou natural?", perguntou-me a senhora. Fresca e natural eram para mim, até aquela sede, palavras muito próximas. Peixes e legumes frescos são quase naturais, não? Talvez um pouco mais frios, mas ainda não gelados. Tivesse perguntado "gelada ou normal?", a resposta viria natural, sem titubeios.

José Mário Branco

José Mário Branco é um dos grandes autores/cantores de músicas de intervenção em Portugal. Assim como José (Zeca) Afonso, suas músicas guardam críticas contra o Estado Novo português, contra instituições, planos, regimes, em letras - por vezes censuradas - (re)cantadas sempre em rodas de amigos. Cantava o "Zé Mário", em refrão que ainda não se deu por vencido: "FMI! Não há truque que não lucre ao FMI / FMI! O heróico paranóico harakiri / FMI! Panegírico, pro-lírico daqui" (FMI). José (Zé) Mário Branco!



- O que achas?
- Estou cheia de pica!
- Então vamos, mas não repitas isso no Brasil, combinado?
- A viagem?
- Não, a pica.

Em Portugal, pica ainda não é dada à ambiguidades: é, sem constrangimentos, pique. Cheio de pica é expressão comum, que - em almoço de família - não profana qualquer tabu da língua. Pica, também, é o senhor que passa a conferir, e a picar, os bilhetes (passagens/vales) nos comboios portugueses. Picas. Enquanto no Brasil já é um tabuísmo dicionarizado ("pênis/pinto"), em Portugal há quem vá cheio de pica para o sol da Caparica.

GNR

Não é a Guarda Nacional Republicana, tampouco os Guns N' Roses: os GNR, a banda portuguesa, são o Grupo Novo Rock. "São um dos mais carismáticos emblemas do campeonato musical português. Apesar de terem sido dos últimos a irromper do boom que foi o novo rock português, nos anos 80, os GNR (sigla polémica para Grupo Novo Rock) rapidamente ganharam um lugar de destaque no panorama pop português, que até à última década sempre se manteve muito frágil" (Rua de Baixo, nº 36, outubro 2006). Banda portuense de Rui Reininho, GNR! (Efectivamente escuto as conversas, aparentemente sem moralizar...)



Pode parecer ultraje, mas o chiclete que os portugueses mastigam não é igual ao meu. E não porque o meu chiclé faz ploc, e o deles faz bum, mas pela forma como aqui o pedem ao seu Mané do bar: pastilha elástica.

Carlos do Carmo

Talvez o mais renomado intérprete de fado ainda vivo - sua voz é um registo da cidade e uma ótima banda (trilha) sonora para se conhecer uma tradicional Lisboa, entre eléctricos, sardinhas e casas de fado: "Lisboa, menina moça, amada / Cidade mulher da minha vida". Ao vivo do Coliseu dos Recreios, Carlos do Carmo.



Futebol é o esporte, ou desporto, nacional. No país de Cristiano Ronaldo, goleiro é guarda-redes, equipe é equipa, trave é poste, pênalti é penálti, camisa é camisola, torcida é claque e torcedor, adepto. Ao redor do relvado (gramado), correm os apanha-bolas (gandulas) como putos (piás, guris) em disparada rua abaixo. No ponto alto da partida - o gol - em Portugal grita-se golo: e gol contra é lamentado como auto-golo. Em dias de jogo, é comum ser dito "ir à bola", ou "ver a bola", daí a expressão "ir à bola com" como afirmação de apreço, simpatia ou admiração - como a um bom amigo a quem confiamos a companhia para os jogos do Benfica - ou a sua negativa "não vou à bola com isso" ("não vou com a cara disso"). Das TVs ligadas, e da malta a comemorar entre Imperiais e sofás, os gritos de golo ressoam pelas frinchas das ruelas. Então, a saudade dos rojões, das vidas em barulho a torcer pelo Corinthians, e do vizinho a quase perder a voz, talvez a vida, pelo São Paulo, ê o.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Carlos Paião

Uma carreira curta, mas com muitas coisas boas deixadas. Tido como um dos grandes "cantautores" da década de 80. Músicas que alegram a alma. "Em playback tu és alguém / Mesmo afónico cantas bem...". Carlos Paião!

- Para quando é a leitura do texto? Perguntei.
- Pra semana. Responderam-me.
Assustei-me, eu que só funciono às vésperas.
- Não é para a próxima semana?
- Sim, pra semana.

Pois, "pra semana", em terras portuguesas, é "para a próxima semana" (a ti parece óbvio?). Assim como "para o ano" ("para o próximo ano"). Estás a ver? "Adeus... até pra semana!". Eu reservo-me ao mentiroso, porém simpático, "até amanhã".

UHF

Rock português dos anos 80, com EPs lançados ainda há pouco. A banda que é Benfica ("Sou Benfica!"), para o desgosto dos sportinguistas, ainda conta - e canta - com uma grande claque (torcida). UHF!



A rudeza da palavra escroto, em Portugal, pode causar um grande estranhamento: "que gajo escroto" é frase descabida, descombinada, que provável não se ouvirá de algum português. Mais raro é ouvir o termo em sentido positivo, como acontece em algumas regiões do Brasil: "o show foi muito bom, do caralho, escroto mesmo!". Escroto, cá, é como glande ou uretra, que mais se prestam aos sentidos da literatura médica. Urologias à parte, evocações na conta da semiose. Se te não agradar, distinto leitor, invoque-se em calão brasileiro, e confirme: "este texto é escroto pra caralho". Ou, em ares lusitanos, "um ganda vomito, pá!"!

Buraka Som Sistema

Wegue! Wegue! Wegue! A batida eletrônica, a levada do Kuduro. O grupo português, cheio de sons e acentos angolanos, que faz a malta (galera) pular. Bababa, nhenhenhe, dudududu, hei! De Buraca (uma freguesia de Amadora, na grande Lisboa): Buraka Som Sistema!



Há alguns dias, em festa de amigo, um gajo de sorrisos largos e olhos já caídos, rendido pelo copo, meteu-se a imitar brasileiros: "estão me enchendo no saco, me enchendo no saco!". O desencontro da preposição salvou a piada - o "no" solto na frase deu a graça do despropósito. "Encher o saco" não é frase corrente em Portugal, onde mais se "chateia": "estás a chatear, pá, com tuas parvoíces!".

terça-feira, 3 de maio de 2011

Samuel Úria

"Eu próprio fui muito influenciado, apesar de me libertar disso, pelo Grunge. (...)Ouvi muito Grunge durante a minha formação musical e depois comecei a ouvir Blues, o Rock mais antigo, o Folk, Leonard Cohen, Country, Jonnhy Cash e na música Portuguesa o Variações, os Heróis do Mar e os GNR na parte da escrita, muito cómica, cheia de figuras de estilo do Rui Reininho, não sei se foi uma influência, mas sempre gostei muito de o ouvir e ler." (Samuel Úria, em entrevista para O Beirão Online - 19/07/10). As influências estão postas: da linhagem FlorCaveira, Samuel Úria!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O tão querido vira-lata, em Portugal é chamado cão rafeiro. O apelido (alcunha), que ladra carinho e malandragem, cá vira piada: vira-lata.

Heróis do Mar

Quando um grupo de amigos portugueses relembra a infância (ou juventude) dos anos 80, Heróis do Mar é uma das (des)memórias que vêm à tona. "Heróis do mar", além do ufanismo que lhe cabe, é o primeiro trecho do hino de Portugal ("Heróis do mar, nobre povo / Nação valente, imortal / Levantai hoje de novo / O esplendor de Portugal"): às armas, meus caros, às armas! Uma partezinha da estética musical dos anos 80, para nós. Ei-los.

Piriguete, cachorra, vadia ou biscate. Ainda há mais um punhado de sinônimos, e outros tantos sotaques, para esses desaforos. Em Portugal, diz-se badalhoca - algumas vezes, bardajona. Defina-as como bem (im)pedir a tua lucidez, a tua moral, o teu machismo, o teu ciúme ou a tua inveja.

Maria João

Enquanto Paco re-encontra Igor, em Terra Estrangeira (de Walter Salles e Daniela Thomas - prepare o Torrent e a pipoca!), uma fadista canta "Estranha Forma de Vida" (tão conhecida na voz de Amália Rodrigues): eis Maria João. Seus laços com o Brasil continuam em re-gravações de músicas de Nando Reis, Chico Buarque, Lenine e Los Hermanos. Até os Afros Sambas ganharam um acento português. Sob a Ponte 25 de abril, a não andar com os pés no chão, canta Beatriz. Maria João!

domingo, 1 de maio de 2011

- Teu prédio é o marrom, não?
- É o castanho.
- Sim, o marrom?
- O castanho.

Basta saber de cor: em Portugal, é raro o uso da palavra marrom - mais se usa castanho. Para olhos, cabelos, roupas ou fachadas.

Madredeus

Teresa Salgueiro, a voz que por muito tempo marcou os Madredeus, hoje segue carreira solo. Mas o projecto, agora Madredeus & A Banda Cósmica, continua com outros son(are)s. Talvez uma das bandas portuguesas mais conhecidas no Brasil, e em outros pomares de laranjeiras!

Hoje, em Portugal, é o Dia da Mãe. Primeiro domingo de maio: da mãe. A falta do "s" nos causa (a nós brasileiros) uma singular estranheza, acostumados que estamos com o Dia das Mães. Mas as prendas, compras, anúncios, são as mesmas. Felicidades a ela, e a elas, pá!