terça-feira, 28 de junho de 2011

Lisboa, não sejas francesa, digas abobrinhas, mas não digas mais courgettes.

P.s: "Dizer abobrinhas" (courgettes), expressão corrente no português brasileiro, é enredar-se em "conversa superficial" (Dicionário Houaiss), tola ou absurda.

Carminho

Indicação de amiga fadista, em fim de tarde de fado à calçada. Chama-se Carmo Rebelo de Andrade - Carminho -, velha/nova conhecida dos frequentadores da Alfama. Boa dica, ainda mais para quem vai a apre(e)nder o gosto pelo fado. Carminho!



segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Mudança engatada?", pergunta o amigo português ao motorista brasileiro. "Marcha engatada!", este responde, no pára-arranca passageiro do trânsito lisboeta.

sábado, 25 de junho de 2011

Sitiados

O encontro do rock com a música tradicional portuguesa, na década de noventa - quando do triunfo dos electrodomésticos. Banda de João Aguardela, que depois de sitiado cantou com A Naifa. Vamos ao circo? Sitiados!



Bué é calão corrente no dia-a-dia de Lisboa, a entrecortar conversas com a intenção de ser muito. Palavra falada bué. No Porto, assim como bué, comum é uso de tótil. Tótil. Tótil comum, estás a ver?

Smix Smox Smux

"O álbum de estreia dos bracarenses tem canções que fogem ao politicamente correcto, que exploram o nonsense, que louvam o 'Uísqui' e o aquecimento global porque, com ele, 'finalmente há praia em Braga'. Humor desconcertante, rock empolgante (...) os Smix Smox Smux têm essa coisa punk de falarem das coisas de forma directa e inteligível, têm esse lado mui rock'n'roll de fazer música que pede dança acelerada (e individual, que isto não dá para pares enrolados)" (Ípsilon, Música, 26/06/2009). Amor Fúria, Smix Smox Smux!



quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Uma alforreca!", gritou, ali onde se desfazem as ondas e deixa oferendas o mar. Estava morta, uma água-viva.

Helena Sarmento

Nova geração do fado português, em sons e imagens portuenses. Com um álbum de estréia lançado há pouco (Fado Azul), Helena Sarmento:



Por baldar às aulas, um puto português chumbou. Por matar aulas, um piá brasileiro bombou. A língua se indisciplina nova; a escola se perpetua velha.

Guta Naki

"Uma voz expressiva, letras que evitam lugares comuns e atmosferas de muitos tons e sabores. Tudo recheado com uma sensibilidade que não deixa de ser pop" (Gonçalo Sá, Sapo Música). Cátia Pereira, Dinis Pires e Nuno Palma, são os Guta Naki, em velhos e novos mundos.



Não conhecia o petit déjeuner, tampouco era afeito à arrogância do óbvio: facto é que, ao ler "incluído pequeno almoço" (café da manhã), imaginou uma refeição breve, almoço ligeiro, ao meio-dia, com pequenas porções de arroz, batatas, bacalhau e sobremesa.

Tv Rural

"Os Tv Rural foram Zé Mário Branco na Jamaica antes da Jamaica chegar em massa ou do Zé Mário Branco ser cool. São Zappa a fumar cigarros baratos, uns atrás dos outros, com o Kurt Cobain para logo depois meterem o Jorge Palma a malhar copos com o Kusturica na sala de ensaios dos Ornatos.
São jazzreggaefunkfadunchoafrodrumn'basspunkrockprogressivo e têm sido sempre Tv Rural" (Palco Principal). Tv Rural!



Fosse no Brasil, soaria dialeto caipira (saloio), pronúncia de fala desprestigiada: aluguer - assim como azur (azul), papér (papel) ou mér (mel), que marcam falares não valorizados de grupos específicos do país. Chicrete, bicicreta, Creusa: escandalizam-se os paladinos da "língua culta". Questões de registo (registro), classes e poder. E então, aluguel ou aluguer? O rotacismo do L (em R), metaplasmo comum na fala "popular" brasileira, e em tantas outras línguas, consagrou-se em palavra dicionarizada no português europeu - aluguer/alugueres (aluguel/aluguéis). A língua-rio a se (trans)formar. Aluguer: em São Paulo, fala estigmatizada, piada em bocas preconceituosas; em Lisboa, ortografia oficial, fiada por cânones gramaticais e imobiliários. Que seja, então, mais um pobrema, entre brasileiros e portugueses, Oswalds e Camões, para repensarmos as cobranças do "bem falar".

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sara Tavares

Entre um e outro café, no Largo de Camões, ela aponta para a mesa vizinha e avisa: "é a Sara Tavares". Sara Tavares? Fui, então, sabê-la. A potência da música caboverdiana na voz da cantora portuguesa, filha de imigrantes africanos, chamou-me a atenção. "Escrita simples e eficaz e a capacidade de criar melodias simples embaladas num torpor rítmico encantatório"(Crítica Ipsilon, por João Bonifácio), em músicas com bons feelings. Ei-la.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um bom escritor é um bom aldrabão. Literatura é invenção, verdade que se (ape)tece por escolha. Aldrabão, aldrabona: mentira é a matéria prima da (pro)criação.

Aldrabão: fig. Homem mentiroso, trapaceiro. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)

Pucarinho

"Pucarinho é um projecto musical português nascido em setembro de 2008 na cidade de Évora. Este projecto apresenta música de momentos fortes, sensíveis, harmoniosos, por vezes explosivos ou mesmo imprevisíveis. Pucarinho deixa-nos repletos de uma sonoridade e voz muito particulares numa viagem que passa pelo blues, o jazz, o clássico e até mesmo o rock" (Agenda Fnac, 01/15 de junho 2011, p. 10). Pucarinho!



Café Nicola, Pastelaria Suiça, artistas de rua, activistas em acampada: o Rossio é uma das principais praças de Lisboa. A uni-la com a praça da Figueira, ali onde se esquina a Confeitaria Nacional, uma pequenina mas muito (p)asseada rua: a rua da Betesga. Um dia, disseram-me: "não queiras meter o Rossio na Betesga". Pois. Meter o Rossio na Betesga, expressão corrente na fala lisboeta, a transitar de eléctrico (bonde) entre o improvável e o impossível.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Zeca Sempre

O projecto Hoje regravou Amália, os Humanos regravaram Variações. Ao som do pop-rock, Nuno Guerreiro, Vitor Silva, Olavo Bilac e Tozé Santos, regravaram José (Zeca) Afonso. E que venham mais cinco, então: Zeca Sempre!

"As ruas de Lisboa são cheias de beatas", disse-me. Imaginei um passeio (calçada) santo, com senhoras em hábitos pretos a flanarem pelas montras (vitrines) da cidade. "Beatas e cocós de cachorro", completou. Então entendi. Beata, em Portugal, é a abrasileirada bituca, atirada ao chão por alguns descuidados fumadores (fumantes) que não a entendem como lixo.

João Só

Um pop-rock de músicas gostosas, com um singular personagem ao vocal. "Pop puro sangue", vão à Marte, se tu queres. João Só e Abandonados!



"Vamos tomar umas bejecas?", perguntou-me. Eu, que por despaladar prefiro sumo (suco), acompanhei-a em conversa enquanto bebia a sua breja.

Da Weasel

"Os portugueses Da Weasel, uns dos grupos que melhor souberam unir o hip hop ao rock, anunciaram ontem que puseram fim ao projecto, 17 anos depois da fundação, revelou a editora EMI", era o que anunciava um dos principais jornais do país ao fim do ano passado (Diário de Notícias, 10/12/10).Ei-los, Da Weasel:



"Azelha!", grita um camionista (caminhoneiro) para o senhor que trafega sem pressa (o carro a ziguezaguear pela via), no vagar da prudência e da preguiça, em estrada portuguesa . Fosse no Brasil, gritaria - em repentina conversão - "barbeiro!".

Norberto Lobo

"Há dois anos foi editado Mudar de Bina, o álbum de estreia de Norberto Lobo, e maravilhámo-nos. Havia a dedicatória a Carlos Paredes e havia Paredes lá dentro, mas não reprodução de uma sonoridade, era coisa de alma, algo de intangível. Não podia ser de outra forma, que Norberto Lobo toca guitarra clássica, não portuguesa. Não podia ser de outra forma porque Norberto Lobo, que passa o dia com uma guitarra às costas, tem a cabeça cheia de música. Música dali e de ontem, música de aqui e de agora. John Fahey e as revoluções do mago da guitarra na Americana. Os sons da cítara de Ravi Shankar e do mandolim de Mandolin U. Shrinivas. E Robert Wyatt e Thelonius Monk e, acima de toda a gente, o multifacetado Jim O'Rourke de quem fala com incontido entusiasmo" (Ípsilon, 04/06/09). Norberto Lobo:



Ele, pequenino, de babygrow estampado, passeava de carrinho pelo Jardim da Estrela. Ela, a fazer festinhas ao cão de peluche (pelúcia), viu-o passar. Esqueceu-se do biberon (mamadeira) e lhe mostrou os primeiros dentinhos. Ele retribuiu o sorriso, agarrou desajeitado o babete (babador) e balbuciou uma qualquer palavra. Era dia de Santo Antônio, mas isso pouco importa a quem se vai a descobrir as novidades da alma.

sábado, 11 de junho de 2011

Mundo Cão

"(...) Nas relações pessoais, o ideal é o da normalidade; o padrão torna-se norma de conduta e qualquer desvio é olhado de soslaio, com desconfiança. O hiper-consumismo faz esquecer os valores crus, as emoções à flor da pele. O amor é, agora, palavra para novelas, e o ódio serve para ilustrar os fait-divers jornalísticos. Nada é vivido com a intensidade das emoções. A sintaxe toma o valor da semântica e as palavras valem pela sua aparência. No entanto, um grupo de pessoas resiste a este estado de coisas: vivem a vida pela vida, com a intensidade de um poeta maldito, ou de um actor suicidário, a diletância de um saltimbanco ou a espontaneidade de um marinheiro bêbedo. É uma geração de gentes, mas não separadas pela idade. O que os junta são as emoções, a forma como as vivem e delas sugam a vida: o amor pelo amor, a paixão pelo ódio, a volúpia do suor e a sensualidade do sangue. Tal como os caninos, esta geração vive em matilha e cada cão é a liberdade. É esta a GERAÇÃO DA MATILHA..." (Retirado do MySpace da banda). Eis um Mundo Cão!



"Vais ficar constipado", advertiu-me, com olhar maternal e acento português. Sorri com carinho e desacato: o frio me (in)venta displicência, onde estiver. Na manhã seguinte, entre lenços e aspirinas, a ladainha que se (me) esperava: "estou resfriado".

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os Lábios

Antes eram os The Profilers, agora, com alguns integrantes a menos, são Os Lábios. Banda recente, "um som mais pop/rock e colorido". "Inspiramos nos The Strokes, nos Franz Ferdinand, nos The National. Inspiramo-nos imenso no pós punk, anos 75-78 em Inglaterra, nos Estados Unidos e cá em Portugal", diz Eurico, um dos integrantes da banda (Imagem do Som, 03/05/11). Ei-los:



Um casal de portugueses vai a um boteco (tasca) em São Paulo:

- Uma imperial, se faz favor.
- O quê?
- Uma imperial, sabes? Um fino, bem gelado.
- Sei não. Um chopp?
- Exacto, uma imperial. Há caracóis?
- Tem não. Tem frango à passarinho e polenta frita, pode ser?
- Há bitoques?
- (...)
- Fazes-nos uns pregos no pão, então?
- (...)
- Há pregos no pão?
- (...)
- E então, caraças, tu fazes ou não?
- Se o senhor faz questão, posso arranjar. (A resposta veio gaguejada, em susto e malícia)
- Então faças, homem!

O fim da história fica por vossa conta, com ou sem gorjeta.

Márcia

Chamou-me a atenção a capa do CD, digipack, em um passeio de fim-de-expediente pela FNAC. Parei, peguei-o e o ouvi. Que surpresa boa! Uma das vozes femininas do Real Combo Lisbonense, em carreiro solo. Márcia Santos, que se divulga como Márcia, sem apelidos (sobrenomes). Valeu-me a curiosidade.



Quando leio, em vidros de azeitonas ou embalagens de maionese, "conservar em frigorífico", imagino-os, fra(s)cos pequeninos, assustados entre carcaças de animais e algozes de aventais brancos a retalharem bois. Uma mistura de Earthlings com Cortázar, em cenas descabidas que me moram. Isso porque, em Portugal, frigorífico é a geladeira brasileira, e não o morgue refrigerado onde (a)guardam os nossos bifes (bifanas). Frigorífico, geladeira. Vale lembrar que os açougues, em terras lusitanas, são chamados de talhos - e os açougueiros, talhantes. Uma diferença (refri)gerada em questões de conservação, de carnes e da língua.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os Azeitonas

Um quê de rock, um quê de humor, um quê de pop - a mistura portuense, em vidro de azeitonas, faz a malta cantar e pular. Afinal, quem és tu, miúda?



Irão (Irã), Vietname (Vietnã), Amsterdão (Amsterdã), Egipto (Egito), Moscovo (Moscou), Bagdade (Bagdá), canadiano (canadense), palestiniano (palestino), este (leste), Médio Oriente (Oriente Médio). As diferenças, relevo: a língua se revela em topônimos e (geo)grafias.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

António Zambujo

"Cresceu a ouvir o cante alentejano. A harmonia das vozes, a cadência das frases e o tempo de cada andamento, foram para sempre uma influência. (...) Ainda pequeno, apaixonou-se pelo Fado e pelas vozes de Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Alfredo Marceneiro, João Ferreira Rosa, Max entre muitos outros. Estava habituado a cantar em família e entre amigos, e aos 16 anos chegou mesmo a ganhar um concurso de fado" (Site oficial de António Zambujo). Ei-lo, alguns anos depois, a fazer concertos (shows) pelo mundo - António Zambujo.



terça-feira, 7 de junho de 2011

No momento em que uma aeromoça anuncia, em um avião da TAM, que logo se irá aterrissar, uma hospedeira anuncia, em avião da TAP, que se irá aterrar.

A Naifa

As músicas surgem de poemas: José Luis Peixoto, Rui Lage, Adília Lopes, entre outros tantos poetas, em antologia cantada com guitarras eléctricas, baixo e guitarras portuguesas. Um interessante projecto musical de 2004, que vale ser (re)ouvido. A Naifa.



O sotaque se dá nos dedos, a deitarem música sobre o teclado. A diferença, no registo (registro) profissional: no Brasil, chamam-se tecladistas; em Portugal, ei-los, teclistas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Iris

A música, em rádio de táxi, tinha trechos para mim incompreensíveis: português, galego, russo? "Atira-tó mar e diz que t'emperrarem", hoje sei. "Mó! ‘tá o mar fêt’d’um cão", entendi mais tarde. Pois bem. Rock português algarvio, dos anos 80: Iris! "Bêja-me da boca e chama-me Tarzan".



domingo, 5 de junho de 2011

Há, no Brasil, quem vá para a farra, para a gandaia, ou para a esbórnia - noites de copos e pileques - em desacato aos discursos de ordem e insolência aos ralhos de pai e mãe. Em Lisboa, há quem vá para a borga, apanhar pielas (bebedeiras) entre amigos e, talvez, vomitar pelas ruelas do Bairro Alto.

Amália Hoje

O projecto chamou-se Hoje: uma reunião de artistas portugueses contemporâneos para a (re)gravação de músicas de Amália, em mistura de fado e pop - disso, concertos cheios de público e EPs cheios de platinas. Amália Hoje.



sábado, 4 de junho de 2011

Vou-me pôr na alheta, disse-me, ao partir. E foi, pois não? Vazou, se mandou, deu o fora, xispou. Foi nessa: pôs-se na alheta, em lusitanismo de quem vai embora.

Quinteto Tati

Vozes e letras de JP Simões, em um quinteto de seis. Músicas "que partem de uma base jazzy para percorrerem caminhos das rumbas, das valsas e de uma certa latinidade decadente" (Sapo - Palco Principal). Em EP de exílio, Quinteto Tati!



quarta-feira, 1 de junho de 2011

No Brasil, um bebê faz cocô, em fraldas limpas e vogais fechadas. Já em Portugal, um bebé faz cocó, com choro e acento agudos.

Os Quais

Um escritor, um pintor, e um selo Amor Fúria: eis Os Quais. "Inspiradas, de certa forma, nas melodias de Beatles, Caetano, Variações, Prince, Piazzolla e Donato - artistas que influenciaram, desde cedo, Jacinto e Tomás -, evocam sonoridades quentes, eléctricas, com gostinhos de rock, jazz e bossanova" (Sapo Música, 20/01/09), diz-se sobre o EP Meio Disco. Caídos no Ringue, ou cheios de lero lero, vale sabê-los.