sábado, 30 de abril de 2011

Pluto

Banda portuense formada por Manel Cruz (Ornatos Violeta, Foge Foge Bandido), Peixe (Ornatos Violeta), Ruka e Eduardo. Rock português contemporâneo dos mais bem cotados. Bom dia, Pluto!

Mete-me imensa confusão, ainda, quando oiço (ouço) alguém falar em pizzas. A tão paulistana "pítsa" (paulistanizada por usucapião), em Portugal ganha os ares de "piza". "Piza", sem assobios: pizaria, Piza Hut, piza de queijo com orégãos (orégano). Os zz estão sempre (a) postos mas, enquanto no Brasil nos silvam /ts/, cá se entoam /z/. Desencontros de Tele-pizza. Em São Paulo ou Lisboa, o grafema (zz) é sempre o mesmo - já a palavra-dita, em seu acento (sotaque) próprio, refaz-se com a origem do (tele)fonema.

Macacos do Chinês

O hip hop (diz-se, em Portugal, "ip-óp") dubstep pop, com guitarras portuguesas, da Amadora, região metropolitana da grande Lisboa. Macacos do Chinês! (Vale notar a participação do "Chato", ao fim do vídeo). Yo! =)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Talvez com muito esforço, e alguns despachos, um bebé (bebê) poderá ser registado (registrado) como Aguinaldo, em Portugal. E não adianta protestar ao notário: onomástica é questão de lei. Alessandra, Elisangela, Giovana, Cleusa? Esqueça. Mas poderá se chamar Felicíssimo, ou Cinderela, se aos pais soar bem. Isso porque, em terras de D. Manuel, o registo dos miúdos em cartório é autorizado, ou desautorizado, por uma lista de nomes (im)possíveis. Ao contrário do Brasil, onde nem o Céu - que, assim como Anjos, só é permitido "como segundo elemento do nome, precedido da particula do(s)" – é o limite para a engenhosidade dos pais, em Portugal há uma série de restrições no "nomear" dos filhos, para a sorte ou infortúnio dos pequeninos. Entre tantos Felipes, Nunos e Manuéis, brasileiros são reconhecidos (e caricaturados) por seus nomes (!) estampados em crachás, ou listas de presença. Por ora. Oxalá o dia em que um português se chamará, de facto, Rérisson - Rérisson Ford.

Para quem interessar, eis a lista dos vocábulos admitidos e não admitidos como nomes próprios em Portugal, retirado do Instituto dos Registos e do Notariado.

Rádio Macau

Diz Flak, o guitarrista do grupo formado no início dos anos 80, sobre o nome da banda: "Tínhamos dois amigos que eram irmãos, os beatniks do Algueirão, mais velhos que nós, muito bem formados e cultos. Gostávamos deles porque nos davam informação. Naquela altura era difícil arranjar música ou livros e eles tinham muita coisa em casa. Eles foram viver para Macau e um deles tinha um programa de rádio na Rádio Macau. Um dia, estávamos no café com um problema: tínhamos de escolher um nome novo e vimos uma aparição. O Tozé [um dos beatniks do Algueirão] de cabelo comprido e barba, parecia Jesus Cristo, com uma t-shirt com uns símbolos chineses que dizia Rádio Macau. Ficámos com o problema resolvido". Mas (r)emenda Xana, vocalista: "A parte chata é que eu não gosto de comida chinesa e, por causa do nome, as entrevistas de promoção eram sempre em restaurantes chineses" (Blitz, Rádio Macau em entrevista a Mário Rui Vieira, 28/03/2008). Eis uma das principais bandas de pop/rock português dos anos 80/90: Rádio Macau!

As roupas talvez se pareçam. Aparências, caras: caretas. A presunção engomada na camisa pólo, o ar "certinho" e blasé das colunas sociais. Bom moço, bem comportado, "respeitador". No Brasil injustiçaram os Maurícios, em Portugal, os Betos. Mauricinhos ou Betinhos, que (assim) sejam.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Cabaret Fortuna

PopSkaRock recém saído do forno. Um quê alegre e divertido, e um álbum de estréia lançado há pouco: "Amor e coisas parvas". O bar é aberto!

A língua, em sussurros, ao seu ouvido: estou-me a vir, estou-me a vir! Entregue em brasilidade, ele a alcançava: vou gozar! As falas se afinavam apenas no grito das vogais. O despudor também é dado a costumes: "vou gozar?", ela achou piada; "estou-me a vir?", ele, poesia. Na n(m)udez dos corpos, os silêncios se entendiam.

Rui Veloso

Com 30 anos de carreira, Rui Veloso é aclamado por alguns como o pai do rock português; outros, evitando a pretensão do título e usando alguma piada, já o chamaram de tio do rock português. "Rui Veloso é o mentor de grandes êxitos musicais como Chico Fininho, Porto Covo, Não Há Estrelas No Céu, A Paixão, entre muitas outras grandes músicas que marcaram os portugueses (...)" (Blog Páginas Amarelas). A música "Não me mintas" é parte da banda sonora (trilha sonora) do filme Jaime (1999) - ei-lo, em cenas gravadas na cidade do Porto.

Foi o Manel, à mesa com amigos, quem disse: vamos encher o bandulho! Mastiguei a dúvida e alguns rissóis (risoles). Panados (empanados), gambas (camarões), queijos, sandes (sanduíches), cola (coca), tartes (tortas) e doces: a dúvida tirou-me a barriga, empanturrada com novas palavras.

domingo, 24 de abril de 2011

Dazkarieh

Música tradicional? Folk? World music? "Após um caminho de dez anos de vida, os Dazkarieh conseguiram criar um som inconfundível. É o som do passado pelos instrumentos antigos e acústicos e é o som do presente que se ecoa quando se transforma em distorção pura. É a tradição portuguesa, mas também uma tradição dos nossos dias que provocam uma explosão sonora, ainda que plena de intimismo. Quatro músicos em palco são o elo de ligação entre passado, presente e futuro. É uma viagem pelo imaginário sonoro de Portugal e do Mundo e uma energia avassaladora que não deixa ninguém indiferente" (Festa do Avante, release). Dazkarieh!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma noite se (es)vai em piadas quando, entre brasileiros e portugueses, traduções são postas à mesa. Traduttore, traditori, não? Talvez: facto é que as "traições" se tornam gargalhadas, e entornam ferrenhas discussões, quando retratadas aos copos.

O Padrinho, daqui, provoca risadas quando citado em versão verde e amarela: O Poderoso Chefão. Brasileiros se entreolham constrangidos, como a ver o rei nu, no silêncio resignado de quem então se dá conta. O Poderoso chefão tem lá a sua piada, rendemo-nos, e que nos desculpe Don Corleone.

Regresso ao futuro (De volta para o futuro), O rapaz do pijama às riscas (O menino do pijama listrado), Velocidade furiosa (Velozes e furiosos), Up - Altamente (Up - Altas aventuras), Homens que matam cabras só com o olhar (Os homens que encaravam cabras) ou Um eléctrico chamado desejo (Um bonde chamado desejo) são títulos que se reconhecem. Chovem almôndegas (Tá chovendo hambúrguer), À boléia pela galáxia (O guia do mochileiro das galáxias), A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo (A menina que brincava com fogo) ou mesmo Sacanas sem lei (Bastardos inglórios) são títulos que se desconfiam. O problema é quando, no emaranhado de filmes e livros, é posto em (des)caso a A mulher que viveu duas vezes. (...?). Sim, "Vertigo, de Hitchcok", assopra alguém. "Ah, Um corpo que cai!". Gargalhadas. E voltam-se aos copos.

Camané

Um dos mais renomados fadistas contemporâneos. "Este é o senhor fado que nasceu para contar histórias de miseráveis apaixonados e infelizes boémios elevando a voz, tornando maior que tudo o que, no momento, a rodeia. E fá-lo com uma invejável expressão de contentamento. A noite de sexta-feira fica documentada como a sua estreia em nome próprio no Coliseu dos Recreios. Mas quando canta, juramos que a história e a tradição da sala também lhe pertencem" (Diário de Notícias, 18/04/11).

Em 2004, junto com outros artistas portugueses (como David Fonseca e Manuela Azevedo), participou do projecto Humanos, que reviveu músicas inéditas de António Variações. Camané!

Curioso é reparar o estranhamento que causam algumas palavras quando ditas entre amigos portugueses. Palavras "quase naturais", que nos são tão comuns (o pronome nos, aqui, é verde e amarelo), fazem se levantar sobrolhos. Então que confirmamos o tanto de brasilidade em nossa língua.

Já próximo da última passagem de ano, comentei com amigos alfacinhas (quem nasce em Lisboa) que a cidade - em seus invernos úmidos - é a verdadeira terra da garoa: os dias passam quase todos a garoar. Garoa? Nublaram-se em interrogações. Pois: chuva molha parvos (ou molha tolos), por cá. Garoa é palavra brasileira, que aqui se desconfia ser um tipo de peixe, uma fruta ou um objeto qualquer, quando solta desavisada. Garoa. E pouco adianta dizer que é o contrário de toró.

Outro verbo que, há poucos dias, descobri causar estranheza é botar. "O que eu boto para este jantar?". A pergunta, também, faz se arregalarem sobrancelhas. Pôr, vestir, usar. Eu boto, tu botas, eles botam, pá!

Mariza

Fado mainstream, para exportação. Uma das fadistas portuguesas ("luso-moçambicana") mais prestigiadas nacional e internacionalmente, entre as principais porta-vozes do "patrimônio português" no além-mar. Sem dúvida, mais uma das "grandes"! Mariza!

No ecrã (tela, ou monitor, em nosso português brasileiro) de meu portátil, as variações da língua acenam aos montes. No Facebook, a página inicial já me lembra que estou em Portugal: "Vais sair? Mantém-te ligado(a). Visita o Facebook no teu telemóvel" (outrora, amigavelmente, o site me avisava: "Está saindo? Continue conectado(a). Acesse o Facebook em seu celular"). Já estou registado (cadastrado) e, levado aos dedos o automatismo, digito liturgicamente o e-mail e a palavra-passe (senha) que há anos me segredo. Eis-me no contraditório on-line das redes sociais. Uma caixa de texto me pergunta: "em que estás a pensar?" (o bom e velho "no que você está pensando agora?"). Cá não se curte uma publicação: se gosta (ou não gosta). O bate-papo é chat. Bah. Procuro a configuração de conta, clico com o rato (mouse) em idiomas, e vou ter com os gerúndios de minha terra.

Mafalda Veiga

Para tardes de sol, ou noites de ficar à toa com música leve. Como uma boa comédia romântica, que nos distrai com sorrisos passageiros. Mafalda Veiga!

Os sabores são outros, onde estivermos. Em Portugal, há cerveja com sabor a chocolate, preservativos com sabor a morango, gelados com sabor a baunilha. O a, anteposto à sabor, é comum no Português europeu, diferente do uso brasileiro, em que comumente se antepõe um de (sabor de chocolate, sabor de menta, sabor de hortelã ) ou se faz uso não preposicionado (sabor menta, sabor chocolate, sabor hortelã). Enquanto nas embalagens de Ruffles, no Brasil, estampam-se sabor churrasco, em Portugal se estampam sabor a presunto. Cada variação tem lá a graça de seu sabor.

António Variações

"Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou (...)", dizia. Uma figura que "dava nas vistas pela maneira como se vestia", ex-cabeleireiro, definido por alguns - a princípio - como "folclórico", cabia mais exactamente naquela descrição do "completamente diferente", que poucos se arriscam categorizar. Talvez o Trumps, uma das "baladas" de que mais gostei em Lisboa (ha!), seja hoje careta se comparado à época em que era palco de António Variações, e viveiro de uma certa "vanguarda" de antanho. Portugal, ali (início dos anos 80), ainda na ressaca das várias décadas de ditadura, tinha mais um ânimo de modernização. "Toma o comprimido! Toma o comprimido! Toma o comprimido que isso passa!".

Recentemente, um projecto reuniu importantes artistas portugeses (como Manuela Azevedo, dos Clã, David Fonseca e Camané) para a gravação de músicas "inéditas" de Variações: os Humanos. Vale conhecê-los, vale conhecê-lo!


Antes de vir para Portugal troquei alguns e-mails com uma moça alemã, em terras paulistanas. O seu Português era quase língua nativa, escrita corrida sem sotaque, não fosse alguns imensos a entrecortar palavras. "Gostei imenso de conversar (...)", "quero imenso saber (...)". Imenso? Achei, àquela altura, que fosse uma dessas pequenas imprecisões na fala de estrangeiros. Em Lisboa, ê pá!, percebi que imenso é palavra corrente, em uso adverbial, na fala de muitos portugueses. "Ontem choveu imenso", "o Tiago fala imenso". Eu, com aquele deslumbramento breve pelas afinações das línguas, empolguei-me - claro - imenso.

domingo, 17 de abril de 2011

Noiserv

Sem dúvida, um dos mais "criativos e estimulantes" projectos musicais de Portugal que conheço. David Santos: Noiserv!

- Toda a gente foi para ali!
- Todo mundo?
- Não sei se o mundo todo, mas toda a gente.
(Em momentos de bullying linguístico entre amigos brasileiros e portugueses).

Cristina Branco

"No ano em que o fado é candidato imaterial da humanidade (o tango e o flamenco já o são), Cristina Branco gaba-lhe a universalidade: "Quando canto um fado, seja em Lisboa ou Buenos Aires (...), sinto-me alguém que canta sentimentos do Mundo, tão válidos numa taberna do Cais do Sodré como no abrigo de montanha de uma cordilheira nepalesa. Por isso o fado será naturalmente património da humanidade" (Correio da Manhã, 20/02/11). Neste vídeo, Cristina Branco canta "Canção de Embalar", uma música linda de Zeca Afonso, com a licença do fado.

Eu gostava de saber o teu nome, se faz favor. Dito assim, em pretérito imperfeito, a olhar para mim. Gostava? Causou-me grande confusão: no Brasil ainda somos afeitos ao gostaria. Cá, em terras lusitanas, o gostaria soa demasiado polido, daquela fala enroscada em formalidades. Gostava que me enviasse um e-mail, gostava de saber de ti, gostava de ter contigo amanhã. Se, no Brasil, o pretérito imperfeito se bagunça com o futuro do pretérito - tantas e tantas vezes - no caso do verbo ir (se pudesse eu ia/se pudesse eu iria) ou fazer (se desse eu fazia/se desse eu faria) , em Portugal é o que se dá, entre outros, com o verbo gostar. Dessas "naturalidades" nossas que estranhamos nos outros. E que fique cada um com os seus imperfeitos.

Quim Barreiros

Entre as grandes universidades portuguesas, as festas mais esperadas, comumente, são as festas das Semanas Acadêmicas: festas em que os finalistas se despedem da faculdade e os caloiros celebram um novo estatuto. Acontecem, geralmente, ao fim do ano lectivo, entre abril e maio. Em Coimbra há a tradicional Queima das Fitas; em Braga (onde fica a Universidade do Minho), o Enterro da Gata; em Lisboa e em algumas outras cidades do país são chamadas Semanas Acadêmicas. São cortejos, "liturgias", festas, intervenções...

Entre os artistas mais aclamados nestas festas está um senhor de bigode, com o seu chapéu e acordeão, chamado Quim Barreiros. As suas músicas "pimbas", cheias de piadas e infâmias (ha!), levam milhares de estudantes ao coro: "ponho o carro, tiro o carro, a hora que eu quiser, que garagem apertadinha, que doçura de mulher!". Ei-lo!

Entre pacotes de arroz e vidros de azeitonas, em um mercado ao lado de casa, lembrei-me do papel higiênico. "Onde?". Avistei uma mocinha de avental verde, à espera de uma pergunta. No intervalo entre a intenção e a fala, um despensamento atravessou-me breve: "papel higiênico é uma daquelas palavras que cá mudam, como penso rápido (band-aid)". Fácil, era o tal de penso a palavra variante - lembrava-me de ter visto algures palavra parecida. Seguro, sem titubear, perguntei: "por favor, onde estão os pensos higiênicos?". A menina, muito solícita, dirigiu-me a alguns corredores ao lado: "aqui", e apontou a prateleira próxima ao chão. (...). "Ali", e o seu dedo insistia em ficar rijo. (...). "Desculpa, não vejo". Ela, muito atenciosa, agachou e me entregou um pacote de absorventes. "Penso higiênico". Sorri, peguei o pacote de pensos, ou absorventes, dirigi-me a outro corredor com o olhar convicto de quem divide intimidades com a namorada, encontrei um pacote de "folhas duplas, doze rolos" e, como que acometido por uma repentina mudança de idéia, recoloquei os absorventes na prateleira. Ainda sorri para a mocinha, com um aceno de obrigado.

Foge Foge Bandido

Projeto solo de Manel Cruz (Ornatos Violetas e Pluto), que afirma: "O Foge Foge Bandido foi um namoro de acasos, descobrir a música das pessoas e não dos músicos e atribuir ao tempo a tarefa de seleccionar o material. Foi tentar ao máximo expressar o processo, com a consciência, claro, de que o acaso se estende ao próprio entendimento desse processo e de que se calhar não percebi nada" (Manel Cruz para o Diário de Notícias de 12/04/10). Eu também percebi muito pouco, mas o nome é bem giro! Foge Foge Bandido!

Um passeio entre prateleiras de mercado sempre me faz crer que nossas línguas portuguesas se (des)encontram nas mais pequenas diferenças, em trocas de letras ou acentos: o amaciador (amaciante) para usar em roupas, os brócolos (brócolis) frescos, os pães de forma sem côdea (casca), as massas para esparguete (espaguete), as fatias de fiambre (presunto) para a tosta mista (misto quente), os pacotes de tostas (torradas) para comer com queijo-creme (um quase requeijão), as várias marcas de lixívia (cândida), detergentes para lavar loiça (louça), as caixinhas de natas (creme de leite), as sementes de sésamo (gergelim). Letras trocadas, sons trocados: poucos cêntimos (centavos) em um universo de palavras comuns.

sábado, 16 de abril de 2011

Baile Popular

Apenas seguimos uma matriz que é a música popular, mais concretamente a do povo alentejano. Daí que a paisagem do sul se cruze neste disco com universos que vão desde o nordeste brasileiro, até à roulote estacionada algures no deserto americano, como explica João Monge" (Jornal de Notícias, 23/06/10). Uma mistura agitada, que faz os pés bailarem aos pés da cadeira. Baile Popular!

Há quem deite papel na sanita, há quem jogue papel no vaso: se o autoclismo avariar, disfarce, e saia da casa de banho como quem apenas lavou as mãos. Se perguntarem quem descumpriu o aviso, quebrou a descarga e entupiu a privada, diga que não percebeu (entendeu) o verbo deitar, em seu uso lusitano - em minha terra, deitar fora é dormir na rua.

Toranja

Ex-banda de Tiago Bettencourt, conhecida no Brasil entre os arredores de Los Hermanos. Toranja!

Bué. Bué da fixe, bué caro, bué bonita. Bué. Eu já avistara a palavra em livro de Ondjaki, mas achava ser gíria calú (de Luanda), fechada em Angola. Em Portugal, porém, não demora uma esquina para se ouvir - em algum grupo de jovens - alguém dizer bué, entre gandas, fodas e fixes. Bué, palavra curta, explosiva, transita entre adjetiva e adverbial nas falas dos mais novos. A origem é confusa, imprecisa: discussão etimológica a nos arrendar horas. Do Francês falado pelos refugiados do Zaire em Angola - beaucoup - ou do advérbio quimbundo buí (muito), o bué já marca na fala portuguesa um traço de Angola. Bué interessante!

José (Zeca) Afonso

Reconhecido por muitos como o maior compositor e cantor de Portugal. Canções de intervenção e músicas "de esquerda" que marcaram as décadas de 60 e 70. Sua voz, suas letras e suas melodias, são associadas aos movimentos de resistência ao regime salazarista, em lutas pela democratização do país. José (Zeca) Afonso é "leitura obrigatória" para se conhecer melhor a história contada - e cantada! - de Portugal.

"Grândola Vila Morena" é uma das músicas associadas ao "25 de abril" (a Revolução dos Cravos, que pôs fim ao Estado Novo português): a sua transmissão pela rádio Renascença, à madrugada do dia 25/04/1974, sinalizou a confirmação do "golpe" e o início das investidas militares. "Em cada esquina um amigo / Em cada rosto igualdade / Grândola, vila morena / Terra da fraternidade".

Um nome tão rebuscado para algo tão pequenino: rebuçado. "Senhor, quero o troco em rebuçados". Algumas vezes me esqueço e, na pressa do falar, peço o troco em balas.

Os Pontos Negros

"Os Pontos Negros aparecem com esta coisa bilingue: um roque enrole que, ora se canta em português, ora dá vontade de assobiar. Naturalidade da melodia, simples alegria de se fazer música (...)" (Metro News).

Há alguns dias machuquei-me no joelho. Perguntavam-me: magoou-se? Percebi, então, a brasilidade da palavra machucar. Em Portugal, mais se magôa que se machuca. "O Hugo magoou-se no joelho". A ferida abriu em mim um certo lirismo: restava-me uma mágoa a doer pelo corpo.

Clã

A primeira banda portuguesa que conheci, de facto, ainda no Brasil. Os Clã. Rosa Carne e lusoQUALQUERcoisa foram boas trilhas sonoras para o trânsito de São Paulo. As parcerias com Pato Fu (uma das grandes bandas brasileiras, para mim) foram das mais felizes. Neste clipe, Fernanda Takai e Manuela Azevedo, juntas, a fazer amuos.

Em Portugal, fazer bicos para ganhar dinheiro pode não ser uma frase muito feliz. Talvez os teus amigos portugueses olhem para ti com um sorrisinho no canto da boca, e digam alguma qualquer sacanagem. Sim. Por estas terras, fazer bico é, sem meias palavras nem grandes pudores, fazer boquete. Assim como bróche. Na hora de se tentar um troco, todo cuidado é pouco.

David Fonseca

Canta em inglês, como outros tantos intérpretes em Portugal, mas a sua fama fez-se no país. Eis um dos membros do projeto Humanos, em suas "baladas" pop-rock-discoteca. Disco de Ouro, um quê de galã-descolado... porreiro, pá!

No Brasil, chávena nos soa palavra antiga, empoeirada, digna de romances do século XIX ou de visitas à casa da avó. Preferimos xícara. Em Portugal, para muitos, xícara é palavra antiga, com cheiro de bolor. Prefere-se chávena. Pronto. Uma chávena de sumo de dióspiro ou uma xícara de suco de caqui: seja qual a frase, serás servido com a mesma bebida.

Jorge Palma

Outro do time dos grandes artistas portugueses, com quase 40 anos de "estrada". Jorge Palma. No clipe a seguir, o cantor "se encosta" a um punhado de artistas portugueses bastante prestigiados: o número de rostos familiares pode servir como um bom indicador, para nós, do (des)conhecimento da indústria cultural lusitana. Eis um exercício. Encosta-te a ele, e boa sorte.

A "tia Eleonora", já nos primeiros anos de escola, nos ensina (uma próclise depois de vírgula, ó céus!) que nunca, nunca, podemos dizer mim fazer ou mais pequeno. Se o fizermos, arderemos no fogo das desgramaticalidades, junto com os "índios". Pois bem, mais pequeno é expressão corrente na variante formal da língua, em Portugal. Textos acadêmicos, falas de pessoas "cultas", comunicados oficiais, não raro estampam o mais pequeno, sem qualquer olhar escandalizado. Assim como, cá, comumente é usado mil milhões para se referir a bilhões. A TSF Rádio Notícias, em matéria sobre a manipulação de objectos à escala atômica, anuncia no título: "Um mundo mil milhões de vezes mais pequeno que o metro". Paladinos da "língua culta", tremei.

B Fachada

Desses compositores "geniais", com letras pouco ortodoxas. Lançou um álbum, há pouco, para os miúdos - "B Fachada é pra meninos" - que se propõe a ser "um claro manifesto a favor da desobediência e da deseducação". "B Fachada reflete e diz: 80 por cento da cultura que as crianças e jovens consomem é para adultos. Os outros 20 por cento que lhes restam estão ao nível do politicamente correto insultuoso" (Jornal Expresso, 27/12/10).

"B Fachada É Pra Meninos sintoniza a mesma onda e, em registo de Comelade-Playmobil (com baterias de plástico e tudo) que, só aparentemente, se desvia dos álbuns anteriores, alinha interpelações morais (Porque é que o bom é melhor que o mau? Porque é que o mal é pior que o bem? Porque é que é certo ser cara de pau mas está mal ser filho da mãe?), miminhos de avô sábio (antes louco e malcriado que pensar só de emprestado) e faz regressar o mítico João, sem balão, mas com mais pertinente aconselhamento: Larga a sopa João, não comas mais, não dês ouvidos às mentiras dos teus pais". Um desses artistas raros.

Um breve engano em ligação luso-brasileira:
- !
- Alô?
- Tô sim!
- Alô, quem está falando?
- Ê, pá! Estás a falar com o Nuno!
- Nuno? Desculpa, acho que liguei para o celular errado!
- Celular, ó menina? Celular? Cá dizemos telemóvel!
- Desculpa, acho que liguei para o telemóvel errado: é nove-meia-três-dois...?
- Meia, menina? Vocês brasileiros estão sempre a dizer meia! Desculpe lá, mas é seis, menina, seis!
- Seis, certo. Mas não é esse o número, é?
- Não é, menina, não é. Ligaste para o número errado!
- Ok. Estou entrando em um túnel, está me ouvindo?
- Não percebi, peço desculpas: estás a entrar...?.
- Ai, desencana. Não está entendendo.
- Ó menina, não percebo! Caraças, estás a gozar?
- Não senhor, desculpe o engano, tchau.
- Pá, adeus.

OqueStrada

Um "fado de subúrbio", em cores de avivar a alma. A "levada" da Tasca Beat, do "lado de lá" do Tejo! OqueStrada, hei!

Pen Drive é menininho ou menininha? Tem pipi? (Vale lembrá-los de que, no Brasil, enquanto os pais dizem em português-brasileiro aos seus filhos homens para lavarem o pipi, em Portual pipi é o que se esconde nas cuecas das menininhas: sim, cá cuecas são objetos femininos - calcinhas, em bom brasileiro - e pipi é a tal periquitinha, ou qualquer outro eufemiso pudico para acarinhar na língua as "vergonhas" das mocinhas). Pois bem, perguntar sobre pipis pode causar uma confusão maior. Sejamos directos, então. Pen Drive, em Portugal, ao contrário do Brasil, é fêmea: "a Pen Drive". Eis a tal aleatoriedade da desinência de gênero. Ou seja, os artigos que definem - ou indefinem - uma palavra estrangeira, em Português, consagram-se pelo uso: se no Brasil jogamos "o Playstation", em Portugal joga-se "a Playstation". Em textos institucionais, a rede Mc Donald's, em verde e amarelo, firma-se no masculino; em terras lusitanas, coloca-se no feminino (embora muitos amigos portugueses digam "o McDonalds"). E agora, José?

Sérgio Godinho

Um dos grandes: daqueles que ganha um dos dedos das mãos, quando nos é pedido para listarmos os principais cantores/compositores da música portuguesa. Mais de 30 anos de carreira, parcerias com outros grandes artistas de cá (como José Mario Branco e outros tantos) e de lá (como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Zeca Baleiro...), entre EPs, álbuns, bandas sonoras (trilhas sonoras), incursões pelo cinema, etc. Ainda hoje a "surpreender" com suas letras e músicas, e a aparecer em projectos ao lado de cantores da "cena contemporânea". Canções para ouvir "com um brilhozinho nos olhos".

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Assim como AIDS, por essas terras, é conhecida como SIDA (a rima, despropositada, fica por minha conta e risco), o câncer é chamado de câncro. Câncro da Mama, pois bem, não é um apetitoso prato de cantina italiana.

Xutos e Pontapés

Uma das principais bandas de rock portuguesas. Enquanto a Legião e os Paralamas tocavam no Circo Voador, e parte da Vanguarda Paulista enchia o porão do Lira Paulistana, Xutos e Pontapés já fazia concertos (shows) em Portugal. Para o delírio de toda a malta (galera).

Em terras lusitanas, o sc é lido como x (ch). No Brasil, vez ou outra, há quem diga faxismo. Já em Portugal é quase sempre faxinante ver o naximento do sol na pixina.

Ornatos Violeta

Acabou, mas virou documentário. "Tempo de nascer" (2011), sobre os Ornatos Violeta, uma das principais - e mais prestigiadas - bandas de rock de Portugal.

Enquanto no Brasil moças e rapazes trocam xavecos, em Portugal gajos e raparigas trocam piropos. Talvez por isso a tão baixa taxa de natalidade.

Linda Martini

Linda Martini era o nome de uma rapariga, amiga de um dos membros da banda, que veio a Portugal fazer Erasmus. Da amizade, a homenagem.

Autocarros (ônibus), comboios (trens), motas (motos), camiões (caminhões), eléctricos (bondes), metro (diz-se métro, como a unidade de medida), paragens (pontos de ônibus), passadeiras (faixas de pedestres), peões (pedestres), passeios (calçadas), rotundas (balões/rotatórias), bermas (acostamentos), portagens (pedágios), não me fazem tanta confusão quanto o trânsito de São Paulo. Se esquecer algum termo, vou de boléia (carona).

Tiago Bettencourt

Tiago Bettencourt, ex Toranja (a banda que dava as caras com Los Hermanos, no Brasil), em sua carreira solo.

Claras em castelo em Portugal, claras em neve no Brasil. Algum dia o ovo ainda terá os seus sete anões.

Humanos

A reunião de grandes músicos portugueses para a gravação de um álbum com músicas "inéditas" de António Variações. Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves (dos Clã), David Fonseca, Camané (um dos mais "afamados" fadistas contemporâneos), Nuno Rafael, João Cardoso e Sérgio Nascimento, em um dos principais projetos musicais de Portugal desta década. Pois. "Ganda projecto". Ei-los.

"Parabéns a você / nesta data querida / muitas felicidades / muitos anos de vida./ Hoje é dia de festa / cantam as nossas almas / e para o menino Felipe / uma salva de palmas!".
("É pique, é pique, é pique! É hora, é hora, é hora! Rá, tim, bum" e a graça do tio animado que grita "e para o Felipe nada!" não há por cá).

Diabo na Cruz

"Sabemos que a ideia de criar os Diabo na Cruz foi do vocalista da banda, mas como e porquê reuniu este conjunto de músicos? Na verdade há quem lhe chame um super grupo português. Senão vejamos, temos João Gil e os seus 1001 projectos, b fachada e os seus aclamados dois discos que o colocam como um dos valores mais seguros no panorama nacional, Bernardo Barata (Real Combo Lisbonense e Feromona), João Pinheiro (Tv Rural) e Jorge Cruz, o tal, o homem do leme. Explica-nos: “desde que estou em Lisboa cruzar-me com estas pessoas foi a coisa mais natural. Não houve nenhum casting. Conheci o Barata e o Pinheiro e começámos como um power-trio que é uma ideia de que gosto muito. O fachada veio depois orientar-nos o caminho para as vozes.” (Pedro Arnaut, Rua de Baixo, ed. 52)

Em Portugal, há putos que adoram comer Bolas de Berlim, brincar no baloiço, fazer o pino, jogar o Jogo da Macaca ou o Jogo do Galo. Quando eu era moleque, avoava-me em Sonhos, mas quase nunca os comia: não há poesia em vomitá-los. No balanço, virava-me bem; ao plantar bananeiras, caía. Amarelinha e Jogo da Velha eram esportes que quase sempre me cabiam.

Anaquim

"Procuramos inspiração em tudo o que encontramos. E Portugal é óptimo nesse aspecto, porque estão sempre a acontecer as coisas mais incríveis, que quase não surgiriam na imaginação de ninguém. Há coisas que têm mesmo de acontecer e acontecem neste rectângulo à beira mar. Aproveitamos para explorar isso sob forma de canção, e fazer um conto a partir desses eventos." (Os Anaquim, para o Jornal Destak de 10.02.11).

Na papelaria:
- Um pedaço de esferovite e um agrafador, se faz favor.
(Eis que a mocinha volta para casa com um pedaço de isopor e um grampeador).

Virgem Suta

Virgem Suta, com a participação de Manuela Azevedo (dos Clã).

- Aaatchim!
- Santinho!
(Em Portugal, costuma-se dizer santinho após o espirro de alguém: saúde é palavra amarelada, quase em desuso, dita pelos "mais antigos").

Deolinda

As que tocam no repeat em meu aparelhinho-de-escutar-música. Deolinda. Letras, melodias, vídeos, projetos gráficos, simples mas bué sofisticados. A banda que canta Lisboa, com guitarras portuguesas, lírico e satírico, com muito primor. Os Deolinda!

Que seja giro, meu!

A língua que vai ao céu da boca nos "tis" chiados sob o céu da Baixa, azul: cumplicidade tecida sobre o acento, ao sol. Lisboa se verdeamarela entre eléctricos e autocarros. Mas a saudade... // Pensei em criar um espacinho, meus caros, para partilhar com os senhores um pouquinho da "cena portuguesa" contemporânea, em vídeos, músicas, notícias, rabiscos, entrecortados por causos breves de palavras. // A "cultura brasileira contemporânea" está muito mais presente em Lisboa que a "cultura portuguesa contemporânea" está em São Paulo. Assimetrias de indústrias culturais, em tempos de mercadorias - o sentido das naus agora é outro. // Não sou prendado em "críticas musicais", nem em grandes reflexões antropológicas. Tampouco me atrevo aqui a discutir "cultura": fiquemos com a imprecisão (im)própria do termo, que a torna comum e possível para nós. // Publico, assim, imprecisamente e sem a pretensão de qualquer rigor, um pouquinho da "cultura contemporânea" portuguesa que ando a (re)conhecer aos poucos, para dividir convosco as alegriazinhas das descobertas cotidianas. Aproveito para matar a saudade de amigos, e invento um pretexto e um acervo meu. // O blog é simples, sem grandes firulas ou vontades de ser grande. Uma conversa de cozinha entre bons e velhos camaradas, com roupas de ficar em casa. E "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa co'a gente". // Que não seja uma seca, pá!, mas que seja giro, meu! =)