sábado, 13 de agosto de 2011

The Gift

Banda portuguesa, criada na década de 90, com grande parte das músicas cantadas em inglês, como Made for you ou RGB. Aqui em português, The Gift!



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

- Trabalho na restauração: faço cachorros - assim se apresentou o gajo português.
- Restaura cães? - perguntou o rapaz brasileiro, imaginando um Weimaraner empalhado, com as patas cheias de fisgas.
- Não, faço cachorros. Na Baixa.

"Restauração. (Do francês restauration). [Comércio] Actividade comercial de preparação e fornecimento de refeições em restaurantes e estabelecimentos similares". (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). A praça de alimentação em shoppings brasileiros é a zona de restauração em centros comerciais portugueses. Já cachorro é o uso comum, em Portugal, do termo cachorro-quente, abreviado no falar do dia-a-dia, em carrinhas e quiosques lisboetas.

Tiago Sousa

“Um piano às vezes com gravações de campo. Uma estupenda viagem em cinco andamentos, contemplativa, inquieta, melódica, geométrica, modernista” (Jorge Manuel Lopes, Um, 19/10/2006). "A minha música mantém esse carácter autodidacta, da descoberta por si mesmo, da tentativa e erro. E, conclui, de assumir que os discos que fez até hoje estão longe de serem brilhantes. Pelo contrário, descreve as suas composições como processos. E remata: Aprecio mostrar esse processo de forma crua, de forma natural, sem artefactos". Eis Tiago Sousa.



- Não és bem discreto! - disse a rapariga, em expressão típica dos Açores.
- Discreto?
- "Não és bem discreto": não bates bem da cabeça, és parvo, és tolo!

Lisboa ou Ponta Delgada, os falares se engraçam na indiscrição dos calões.

Fitacola

Guitarras e ollie-flips, em rock à la CPM22 (em "Outros dias", cantaram com Badauí, vocalista da banda brasileira). Os Fitacola!



Em um filme dublado, um ogro no Reino de Tão tão distante. Em outro, dobrado, um ogre no Reino de Bué Bué Longe. Shrek, Fiona e o Burro, em acentos e sotaques diferentes: vale a comparação, vale a atenção aos diferentes dubladores/dobradores (versão brasileira / versão portuguesa).

Ao contrário do Brasil, em que a dublagem é recurso comum, em Portugal pouco se faz a dobragem: ainda muito se ouve, em filmes não legendados, o falar brasileiro.

sábado, 23 de julho de 2011

Amália Rodrigues

Hoje, dia 23 de julho, comemora-se o aniversário da maior fadista portuguesa: Amália Rodrigues (1920-1999). Um dos grandes nomes de Portugal, Amália Rodrigues é homenageada em praças, ruas, avenidas, jardins, edifícios. Seu túmulo apequena o vulto de ex-presidentes, e grandes escritores, com quem divide honrarias no Panteão Nacional. Ei-la, Amália.



sexta-feira, 22 de julho de 2011

Xampu, como bem querem os brasileiros, ou champô, como preferem os portugueses: a cosmética da norma faz cabê-los, um e outro, em registos oficiais da língua.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Jerónimo & Cro-Magnon

"Mais que uma banda, é uma maneira de estar. Com tendências vivamente marcadas num folk-rock muito característico das décadas de finais de sessenta, princípios de setenta, sem esquecer o verdadeiro sentido das palavras, os 'Jerónimo & Cro-Magnon' revivem paixões, desbaratam ilusões, confrontam situações e embaraçam "campeões", sem nunca esquecer as suas próprias raízes" (retirado do site do grupo). Direto da estação do Fundão, Jerónimo & Cro-Magnon!



Um piá (puto) brasileiro pede ao senhor da doçaria:

- Tio, me vê uma bomba!
- Diz, diz?
- Uma bomba, por favor!
- Não percebi: uma bomba?
- Sim, tio, essa bomba aqui, de chocolate. Ou aquela ali, maior.
- Esta eclair? Aquele rim? Diga lá, qual preferes, ó menino? Aqui não vendemos bombas - gracejou.
- Aquela. Aquela bomba ali.

E foi embora, a se lambuzar com palavras.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Joana Amendoeira

Mais uma das grandes novas vozes do fado português. "Em 2010 e com apenas 27 anos de idade, Joana Amendoeira apresenta o seu sétimo disco, um trabalho de originais que combina o fado tradicional com arranjos de acordeão, piano e violoncelo. Dentro e fora de Portugal, a fadista é reconhecida pela sua raiz clássica mas também pela procura de novas linguagens musicais" (retirado do site da cantora). Joana Amendoeira!



segunda-feira, 18 de julho de 2011

Tardava, já se avizinhava a hora de dar de frosques. Olharam-se, concordaram - antes em ato que em vocábulo: ele, português, deu de frosques; ela, brasileira, caiu fora.

Rita Redshoes

"Rita Redshoes continua em busca de sonhos pop. Ou melhor, a viver as suas canções como fantasia para tela" (Ípsilon - Música). Mais uma artista do mainstream português com músicas, quase todas, em inglês. Rita Redshoes!



- Uma coca, e um canudo, por favor - pede o rapaz brasileiro ao senhor do balcão.
- Uma cola, e uma palhinha, aqui está - responde o velhote português.

Os Velhos

"Francisco Xavier, Zé Preguiça, Sebastião e Lucas. Têm nomes que bem podiam ser de personagens de um livro de ficção infantil, mas apesar da tenra idade apresentam-se como Os Velhos. (...) rock eletrificado por memórias que provavelmente não lhes pertencem, mas que ainda assim surgem em toda a sua glória no álbum que acabam de editar e que tem em 'Senhora do Monte' uma manifestação avançada" (Revista Blitz, junho 2011, p.31). Assim como vale conhecer o miradouro da Senhora do Monte (um dos mais bonitos de Lisboa), na Graça, vale conhecê-los: Os Velhos!



Mirou o céu: os olhos se intimidaram com a claridade, as pernas (as)sustaram o equilíbrio. Talvez fosse tontura. "Acho que apanhei muito sol na mona", esgazeou, em expressão comum ao calor português. "Apanhar sol na mona, na cabeça", explicou.

Pudera, estava um sol de rachar o côco.

Eugénia Melo e Castro

"Eugénia Melo e Castro conseguiu em três décadas de carreira reunir duetos com os maiores nomes da música brasileira. Eugénia cantou com Tom Jobim, Ney Matogrosso, Gal Costa, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto e muitos outros". "(...) talvez a mais significativa ponte musical entre Portugal e o Brasil nas últimas décadas" (retirado do blog da cantora). Em cenário brasileiro e acento português, Eugénia Melo e Castro!



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Se calhar, irei ter contigo; se calhar, sabes quem é a Fátima; se calhar, ele nos contactou ontem. Se calhar. A forma condicional, a perambular entre a simplicidade de um talvez e o fausto de um quiçá, é expressão corriqueira no falar de toda a gente, em Portugal. Como o "se pá", calão corrente entre muitos jovens paulistanos ("se pá irei ao médico", "se pá chove hoje"), ou o "se quadra/se cadra" usado na Galiza (Galícia), o se calhar é arroz de festa em conversas lisboetas. Se calhar, de tão comesinho já é dito despercebido nos entremeios das orações. Se calhar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mão Morta

Há quem os defina como "avant-garde", há quem diga que estão entre as mais importantes bandas de rock de Portugal. "Braga, cidade dos arcebispos e bastião por excelência da direita ultra-conservadora, via assim nascer, por ironia do destino, uma banda cuja postura viria, ao longo dos anos, a afrontar os valores morais e políticos de uma sociedade culturalmente atrasada e na ressaca do salazarismo" (retirado do site da banda). Que assim seja. Mão Morta!



Puta friaca, rabujou o paulistano. Ganda briol, tremelicou o lisboeta. E seguiram a esfregar as mãos, com os sotaques tiritados pelo frio.

domingo, 10 de julho de 2011

The Gilbert's Feed Band

"The Gilbert's Feed Band é um agrupamento musical português. A banda é sinónimo de performances hardcore com acrobacias, fusão musical e atitude burlesca. The Gilbert's Feed Band designa de música estrambólica a sua música acelerada, amalucada e original. (...) Para além da música, os espectáculos ao vivo da The Gilbert's Feed Band estão cheios de surpresas, saltos, acrobacias, etc." (Wikipedia!). Gilbert's circus!

O olhar era de empáfia, sem qualquer frincha para simpatias. Contra ele, cochicharam maledicências, em expressão corrente em Portugal: "que cara de cu à paisana!".

sábado, 9 de julho de 2011

Paulo Praça

Com Sónia Tavares não teve medo de caras feias; com outros, reviveu Amália; de valter hugo mãe (as minúsculas são intencionais), musicou escritos - como nesta bela música/vídeo, em que o próprio poeta é representado a fazer coro à força da nossa voz. Paulo Praça!



"Desampara-me a loja!", rezingou, por entre dentes, em expressão antiga. "Vai dar banho ao cão!". Fosse no Brasil, mandar-me-ia catar coquinhos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Raquel Tavares

"Considerada pela imprensa como a nova Severa Lisboeta, Raquel Tavares tem o dom de ser Fadista. Para ser intérprete, não basta saber cantar, colocar a voz e afinar nas notas da melodia; é importante criar, pegar na poesia e casá-la com a música, sugerir uma história, e Raquel faz isso de um modo perfeito" (Fado.com). Pois, ei-la:



Canta-se melhor o fado no país em que tão cotidiano quanto um aceno de tchau é a trivialidade de um dizer adeus.

P.s: vale conhecer o Senhor do Adeus, e a despedida feita por todos aqueles para quem, noite após noite, acenava. Causos lisboetas!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Klepht

Como se diz Klepht? Embora doa, diz-se Cléft, como bem nos ensinam. Banda de pop-rock português com concertos feitos até no Second Life. Klepht.



Um duche no verão lisboeta, e a vontade de tornar gelo o vidro do poliban. Uma ducha no inverno paulistano, e a vontade de fazer sauna no vapor enjaulado do box. Os benefícios de (temper)aturar, frio ou calor, nossas empreitadas de casas de banho (banheiros).

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Lacraus

Como bem dizem, um "panque-roque infantil feito das guitarras, da bateria, do orgão e das vozes (...). Os Lacraus cantam sobre muitos temas mas principalmente sobre Deus, mulheres e crianças. Em português porque, até à data, consideram saloio fingir que não é nesta língua que lhes ocorre dizer as coisas. Mas atenção, os Lacraus são uma banda bastante pró-americana e não têm nos seus projectos tocar na Festa do Avante" (Retirado do Myspace da banda). Lacraus!



Por tomar várias lambretas (cervejas em copos mais pequenos) apanhou uma bezana (cadela, bebedeira). Pouquinho a pouquinho, encheu a cara.

Minta

"A Francisca Cortesão fez canções, gravou-as em casa e decidiu mostrá-las através da Internet. Depois ganhou a coragem necessária e arranjou a companhia de três músicos: José Vilão, Filipe Pacheco e Nuno Rafael. Que é como quem diz que tornou a coisa real, tirou-a cá para fora. Minta surgiu assim, de forma aparentemente descomprometida" (Bodyspace.net - 28 de janeiro de 2009). Músicas boas, pop-rock-folk, cantadas em inglês. (Imperdível é Francisca Cortesão e B Fachada, juntos, em "Primeiro dia", música do EP para miúdos "B Fachada é pra meninos"). Minta!

Uma senhora à janela conjuga céu com toalhas no varal. O velhote escarra ao pé de Deus uma oração. Um trinado de eléctrico a escandir a cidade, das águas-furtadas aos rés-do-chão. Lisboa.

P.s: Águas-furtadas - há poesia até em uma janelinha ao sol.

Ricardo Ribeiro

"Não posso queixar-me da vida, posso só queixar-me de mim próprio", disse Ricardo Ribeiro ao jornal Diário de Notícias, sobre a sua nova empreitada solo. Fadista contemporâneo, lisboeta, a dar-nos horas de fado, ei-lo:



"Tens guito?", perguntou-me, em noite de praça. Surpreso pela ousadia, segredei, a me esquivar de ouvido alheio: "ganza? baseado?". O termo me soava ilícito. "Não! Guito!", ele riu, com os dedos a me indicar dinheiro. Guito, gaita, grana, dindim, bufunfa, tutu: não tínhamos um puto. Sobravam-nos nomes, faltavam-nos moedas.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Oioai

Produzido pelo brasileiro Alexandre Kassin, o primeiro EP dos Oioai já conta cinco anos. Gravaram com Xutos e Pontapés, participaram de um tributo à Carlos Paião e foram banda-sonora (trilha sonora) de novela. Pop-rock gostoso, ói. Oioai!



"Que pirosa", suspirou, a desacreditar de certa cafonice do luxo. Passara uma cócó (dondoca), em olhares desdenhosos e roupas mais que emperequetadas, como a posar para colunas sociais. Pirosa, brega ou cafona, o desalento se fez resmungo ao meu ouvido. "O jet-set é igual, e piroso, em qualquer sítio", remendou. Talvez discordem Lili Caneças e Vera Loyola.

domingo, 3 de julho de 2011

Taxi

Rock português dos anos 80. Quando cantavam Cairo, Mubarak já mandava e desmandava no Egito; quase 30 anos depois, quando voltaram aos palcos de Portugal, com um rock bem diferente, o presidente egípcio ainda era o mesmo, a dar as cartas na "cidade internacional". "Joga-se o xadrez mundial". Os Taxi!



sexta-feira, 1 de julho de 2011

"E o Acordo Ortográfico?", perguntaram-me. Respondo: "pouco me interessa". Uso hífens ao acaso, acentuo por preguiça. Para, pára, para-raios, pára-raios, pararraios? Raios. Escrevo amnistia (anistia), e também fato (facto): minha indulgência é a possibilidade de dupla grafia. As consoantes mudas, não articuladas (actor, óptimo, exacto), dispenso por brasilidade, ou as reforço por preciosismo. Maiúsculas, minúsculas, circunflexos, agudos, confio-me a negligência da intuição, sem as exigências normativas da "reforma" - que me perdoe Antônio Houaiss. Encanto-me não por ortografiquices, mas pelos desacordos fonéticos, sintáticos e pragmáticos de nossos portugueses: pronúncias, calões, expressões correntes, usos vocabulares. Eis o que diferencia, e caracteriza, as nossas línguas. Eis o que me (en)leva.

Lusofonias são questões políticas, e econômicas (ou económicas), que devem ser discutidas no terreno conflituoso das várias ciências sociais - e para lá emigro quando quero conversá-las. Lá. Peço licença, então, para - nestes posts - fugir do imbróglio diplomático e me divertir com as diferenças entre um gambá e uma doninha-fedorenta, uma bolinha-de-gude e um berlinde, um chapéu-de-chuva e um guarda-chuva, sem me preocupar com as novas regras de hifenização, tampouco com a correcção da grafia "antiga" ou com a crítica ao colonialismo às avessas do mercado editorial brasileiro. Talvez a graça esteja, nestas linhas, em discutir pentelhos. A isto, presto-me aqui.

Que assim seja.

Pinto Ferreira

Uma feliz descoberta. Música boa para dias de verão, dessas que fazem os pés batucarem o chão nas paragens de autocarros. São os Pinto Ferreira, "um pop-rock fresco, e feliz por estar vivo" (ESEC Tv). Para tocar no radinho de mão, ei-los!



terça-feira, 28 de junho de 2011

Lisboa, não sejas francesa, digas abobrinhas, mas não digas mais courgettes.

P.s: "Dizer abobrinhas" (courgettes), expressão corrente no português brasileiro, é enredar-se em "conversa superficial" (Dicionário Houaiss), tola ou absurda.

Carminho

Indicação de amiga fadista, em fim de tarde de fado à calçada. Chama-se Carmo Rebelo de Andrade - Carminho -, velha/nova conhecida dos frequentadores da Alfama. Boa dica, ainda mais para quem vai a apre(e)nder o gosto pelo fado. Carminho!



segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Mudança engatada?", pergunta o amigo português ao motorista brasileiro. "Marcha engatada!", este responde, no pára-arranca passageiro do trânsito lisboeta.

sábado, 25 de junho de 2011

Sitiados

O encontro do rock com a música tradicional portuguesa, na década de noventa - quando do triunfo dos electrodomésticos. Banda de João Aguardela, que depois de sitiado cantou com A Naifa. Vamos ao circo? Sitiados!



Bué é calão corrente no dia-a-dia de Lisboa, a entrecortar conversas com a intenção de ser muito. Palavra falada bué. No Porto, assim como bué, comum é uso de tótil. Tótil. Tótil comum, estás a ver?

Smix Smox Smux

"O álbum de estreia dos bracarenses tem canções que fogem ao politicamente correcto, que exploram o nonsense, que louvam o 'Uísqui' e o aquecimento global porque, com ele, 'finalmente há praia em Braga'. Humor desconcertante, rock empolgante (...) os Smix Smox Smux têm essa coisa punk de falarem das coisas de forma directa e inteligível, têm esse lado mui rock'n'roll de fazer música que pede dança acelerada (e individual, que isto não dá para pares enrolados)" (Ípsilon, Música, 26/06/2009). Amor Fúria, Smix Smox Smux!



quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Uma alforreca!", gritou, ali onde se desfazem as ondas e deixa oferendas o mar. Estava morta, uma água-viva.

Helena Sarmento

Nova geração do fado português, em sons e imagens portuenses. Com um álbum de estréia lançado há pouco (Fado Azul), Helena Sarmento:



Por baldar às aulas, um puto português chumbou. Por matar aulas, um piá brasileiro bombou. A língua se indisciplina nova; a escola se perpetua velha.

Guta Naki

"Uma voz expressiva, letras que evitam lugares comuns e atmosferas de muitos tons e sabores. Tudo recheado com uma sensibilidade que não deixa de ser pop" (Gonçalo Sá, Sapo Música). Cátia Pereira, Dinis Pires e Nuno Palma, são os Guta Naki, em velhos e novos mundos.



Não conhecia o petit déjeuner, tampouco era afeito à arrogância do óbvio: facto é que, ao ler "incluído pequeno almoço" (café da manhã), imaginou uma refeição breve, almoço ligeiro, ao meio-dia, com pequenas porções de arroz, batatas, bacalhau e sobremesa.

Tv Rural

"Os Tv Rural foram Zé Mário Branco na Jamaica antes da Jamaica chegar em massa ou do Zé Mário Branco ser cool. São Zappa a fumar cigarros baratos, uns atrás dos outros, com o Kurt Cobain para logo depois meterem o Jorge Palma a malhar copos com o Kusturica na sala de ensaios dos Ornatos.
São jazzreggaefunkfadunchoafrodrumn'basspunkrockprogressivo e têm sido sempre Tv Rural" (Palco Principal). Tv Rural!



Fosse no Brasil, soaria dialeto caipira (saloio), pronúncia de fala desprestigiada: aluguer - assim como azur (azul), papér (papel) ou mér (mel), que marcam falares não valorizados de grupos específicos do país. Chicrete, bicicreta, Creusa: escandalizam-se os paladinos da "língua culta". Questões de registo (registro), classes e poder. E então, aluguel ou aluguer? O rotacismo do L (em R), metaplasmo comum na fala "popular" brasileira, e em tantas outras línguas, consagrou-se em palavra dicionarizada no português europeu - aluguer/alugueres (aluguel/aluguéis). A língua-rio a se (trans)formar. Aluguer: em São Paulo, fala estigmatizada, piada em bocas preconceituosas; em Lisboa, ortografia oficial, fiada por cânones gramaticais e imobiliários. Que seja, então, mais um pobrema, entre brasileiros e portugueses, Oswalds e Camões, para repensarmos as cobranças do "bem falar".

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sara Tavares

Entre um e outro café, no Largo de Camões, ela aponta para a mesa vizinha e avisa: "é a Sara Tavares". Sara Tavares? Fui, então, sabê-la. A potência da música caboverdiana na voz da cantora portuguesa, filha de imigrantes africanos, chamou-me a atenção. "Escrita simples e eficaz e a capacidade de criar melodias simples embaladas num torpor rítmico encantatório"(Crítica Ipsilon, por João Bonifácio), em músicas com bons feelings. Ei-la.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um bom escritor é um bom aldrabão. Literatura é invenção, verdade que se (ape)tece por escolha. Aldrabão, aldrabona: mentira é a matéria prima da (pro)criação.

Aldrabão: fig. Homem mentiroso, trapaceiro. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)

Pucarinho

"Pucarinho é um projecto musical português nascido em setembro de 2008 na cidade de Évora. Este projecto apresenta música de momentos fortes, sensíveis, harmoniosos, por vezes explosivos ou mesmo imprevisíveis. Pucarinho deixa-nos repletos de uma sonoridade e voz muito particulares numa viagem que passa pelo blues, o jazz, o clássico e até mesmo o rock" (Agenda Fnac, 01/15 de junho 2011, p. 10). Pucarinho!



Café Nicola, Pastelaria Suiça, artistas de rua, activistas em acampada: o Rossio é uma das principais praças de Lisboa. A uni-la com a praça da Figueira, ali onde se esquina a Confeitaria Nacional, uma pequenina mas muito (p)asseada rua: a rua da Betesga. Um dia, disseram-me: "não queiras meter o Rossio na Betesga". Pois. Meter o Rossio na Betesga, expressão corrente na fala lisboeta, a transitar de eléctrico (bonde) entre o improvável e o impossível.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Zeca Sempre

O projecto Hoje regravou Amália, os Humanos regravaram Variações. Ao som do pop-rock, Nuno Guerreiro, Vitor Silva, Olavo Bilac e Tozé Santos, regravaram José (Zeca) Afonso. E que venham mais cinco, então: Zeca Sempre!

"As ruas de Lisboa são cheias de beatas", disse-me. Imaginei um passeio (calçada) santo, com senhoras em hábitos pretos a flanarem pelas montras (vitrines) da cidade. "Beatas e cocós de cachorro", completou. Então entendi. Beata, em Portugal, é a abrasileirada bituca, atirada ao chão por alguns descuidados fumadores (fumantes) que não a entendem como lixo.

João Só

Um pop-rock de músicas gostosas, com um singular personagem ao vocal. "Pop puro sangue", vão à Marte, se tu queres. João Só e Abandonados!



"Vamos tomar umas bejecas?", perguntou-me. Eu, que por despaladar prefiro sumo (suco), acompanhei-a em conversa enquanto bebia a sua breja.

Da Weasel

"Os portugueses Da Weasel, uns dos grupos que melhor souberam unir o hip hop ao rock, anunciaram ontem que puseram fim ao projecto, 17 anos depois da fundação, revelou a editora EMI", era o que anunciava um dos principais jornais do país ao fim do ano passado (Diário de Notícias, 10/12/10).Ei-los, Da Weasel:



"Azelha!", grita um camionista (caminhoneiro) para o senhor que trafega sem pressa (o carro a ziguezaguear pela via), no vagar da prudência e da preguiça, em estrada portuguesa . Fosse no Brasil, gritaria - em repentina conversão - "barbeiro!".

Norberto Lobo

"Há dois anos foi editado Mudar de Bina, o álbum de estreia de Norberto Lobo, e maravilhámo-nos. Havia a dedicatória a Carlos Paredes e havia Paredes lá dentro, mas não reprodução de uma sonoridade, era coisa de alma, algo de intangível. Não podia ser de outra forma, que Norberto Lobo toca guitarra clássica, não portuguesa. Não podia ser de outra forma porque Norberto Lobo, que passa o dia com uma guitarra às costas, tem a cabeça cheia de música. Música dali e de ontem, música de aqui e de agora. John Fahey e as revoluções do mago da guitarra na Americana. Os sons da cítara de Ravi Shankar e do mandolim de Mandolin U. Shrinivas. E Robert Wyatt e Thelonius Monk e, acima de toda a gente, o multifacetado Jim O'Rourke de quem fala com incontido entusiasmo" (Ípsilon, 04/06/09). Norberto Lobo:



Ele, pequenino, de babygrow estampado, passeava de carrinho pelo Jardim da Estrela. Ela, a fazer festinhas ao cão de peluche (pelúcia), viu-o passar. Esqueceu-se do biberon (mamadeira) e lhe mostrou os primeiros dentinhos. Ele retribuiu o sorriso, agarrou desajeitado o babete (babador) e balbuciou uma qualquer palavra. Era dia de Santo Antônio, mas isso pouco importa a quem se vai a descobrir as novidades da alma.

sábado, 11 de junho de 2011

Mundo Cão

"(...) Nas relações pessoais, o ideal é o da normalidade; o padrão torna-se norma de conduta e qualquer desvio é olhado de soslaio, com desconfiança. O hiper-consumismo faz esquecer os valores crus, as emoções à flor da pele. O amor é, agora, palavra para novelas, e o ódio serve para ilustrar os fait-divers jornalísticos. Nada é vivido com a intensidade das emoções. A sintaxe toma o valor da semântica e as palavras valem pela sua aparência. No entanto, um grupo de pessoas resiste a este estado de coisas: vivem a vida pela vida, com a intensidade de um poeta maldito, ou de um actor suicidário, a diletância de um saltimbanco ou a espontaneidade de um marinheiro bêbedo. É uma geração de gentes, mas não separadas pela idade. O que os junta são as emoções, a forma como as vivem e delas sugam a vida: o amor pelo amor, a paixão pelo ódio, a volúpia do suor e a sensualidade do sangue. Tal como os caninos, esta geração vive em matilha e cada cão é a liberdade. É esta a GERAÇÃO DA MATILHA..." (Retirado do MySpace da banda). Eis um Mundo Cão!



"Vais ficar constipado", advertiu-me, com olhar maternal e acento português. Sorri com carinho e desacato: o frio me (in)venta displicência, onde estiver. Na manhã seguinte, entre lenços e aspirinas, a ladainha que se (me) esperava: "estou resfriado".

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os Lábios

Antes eram os The Profilers, agora, com alguns integrantes a menos, são Os Lábios. Banda recente, "um som mais pop/rock e colorido". "Inspiramos nos The Strokes, nos Franz Ferdinand, nos The National. Inspiramo-nos imenso no pós punk, anos 75-78 em Inglaterra, nos Estados Unidos e cá em Portugal", diz Eurico, um dos integrantes da banda (Imagem do Som, 03/05/11). Ei-los:



Um casal de portugueses vai a um boteco (tasca) em São Paulo:

- Uma imperial, se faz favor.
- O quê?
- Uma imperial, sabes? Um fino, bem gelado.
- Sei não. Um chopp?
- Exacto, uma imperial. Há caracóis?
- Tem não. Tem frango à passarinho e polenta frita, pode ser?
- Há bitoques?
- (...)
- Fazes-nos uns pregos no pão, então?
- (...)
- Há pregos no pão?
- (...)
- E então, caraças, tu fazes ou não?
- Se o senhor faz questão, posso arranjar. (A resposta veio gaguejada, em susto e malícia)
- Então faças, homem!

O fim da história fica por vossa conta, com ou sem gorjeta.

Márcia

Chamou-me a atenção a capa do CD, digipack, em um passeio de fim-de-expediente pela FNAC. Parei, peguei-o e o ouvi. Que surpresa boa! Uma das vozes femininas do Real Combo Lisbonense, em carreiro solo. Márcia Santos, que se divulga como Márcia, sem apelidos (sobrenomes). Valeu-me a curiosidade.



Quando leio, em vidros de azeitonas ou embalagens de maionese, "conservar em frigorífico", imagino-os, fra(s)cos pequeninos, assustados entre carcaças de animais e algozes de aventais brancos a retalharem bois. Uma mistura de Earthlings com Cortázar, em cenas descabidas que me moram. Isso porque, em Portugal, frigorífico é a geladeira brasileira, e não o morgue refrigerado onde (a)guardam os nossos bifes (bifanas). Frigorífico, geladeira. Vale lembrar que os açougues, em terras lusitanas, são chamados de talhos - e os açougueiros, talhantes. Uma diferença (refri)gerada em questões de conservação, de carnes e da língua.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os Azeitonas

Um quê de rock, um quê de humor, um quê de pop - a mistura portuense, em vidro de azeitonas, faz a malta cantar e pular. Afinal, quem és tu, miúda?



Irão (Irã), Vietname (Vietnã), Amsterdão (Amsterdã), Egipto (Egito), Moscovo (Moscou), Bagdade (Bagdá), canadiano (canadense), palestiniano (palestino), este (leste), Médio Oriente (Oriente Médio). As diferenças, relevo: a língua se revela em topônimos e (geo)grafias.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

António Zambujo

"Cresceu a ouvir o cante alentejano. A harmonia das vozes, a cadência das frases e o tempo de cada andamento, foram para sempre uma influência. (...) Ainda pequeno, apaixonou-se pelo Fado e pelas vozes de Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Alfredo Marceneiro, João Ferreira Rosa, Max entre muitos outros. Estava habituado a cantar em família e entre amigos, e aos 16 anos chegou mesmo a ganhar um concurso de fado" (Site oficial de António Zambujo). Ei-lo, alguns anos depois, a fazer concertos (shows) pelo mundo - António Zambujo.



terça-feira, 7 de junho de 2011

No momento em que uma aeromoça anuncia, em um avião da TAM, que logo se irá aterrissar, uma hospedeira anuncia, em avião da TAP, que se irá aterrar.

A Naifa

As músicas surgem de poemas: José Luis Peixoto, Rui Lage, Adília Lopes, entre outros tantos poetas, em antologia cantada com guitarras eléctricas, baixo e guitarras portuguesas. Um interessante projecto musical de 2004, que vale ser (re)ouvido. A Naifa.



O sotaque se dá nos dedos, a deitarem música sobre o teclado. A diferença, no registo (registro) profissional: no Brasil, chamam-se tecladistas; em Portugal, ei-los, teclistas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Iris

A música, em rádio de táxi, tinha trechos para mim incompreensíveis: português, galego, russo? "Atira-tó mar e diz que t'emperrarem", hoje sei. "Mó! ‘tá o mar fêt’d’um cão", entendi mais tarde. Pois bem. Rock português algarvio, dos anos 80: Iris! "Bêja-me da boca e chama-me Tarzan".



domingo, 5 de junho de 2011

Há, no Brasil, quem vá para a farra, para a gandaia, ou para a esbórnia - noites de copos e pileques - em desacato aos discursos de ordem e insolência aos ralhos de pai e mãe. Em Lisboa, há quem vá para a borga, apanhar pielas (bebedeiras) entre amigos e, talvez, vomitar pelas ruelas do Bairro Alto.

Amália Hoje

O projecto chamou-se Hoje: uma reunião de artistas portugueses contemporâneos para a (re)gravação de músicas de Amália, em mistura de fado e pop - disso, concertos cheios de público e EPs cheios de platinas. Amália Hoje.



sábado, 4 de junho de 2011

Vou-me pôr na alheta, disse-me, ao partir. E foi, pois não? Vazou, se mandou, deu o fora, xispou. Foi nessa: pôs-se na alheta, em lusitanismo de quem vai embora.

Quinteto Tati

Vozes e letras de JP Simões, em um quinteto de seis. Músicas "que partem de uma base jazzy para percorrerem caminhos das rumbas, das valsas e de uma certa latinidade decadente" (Sapo - Palco Principal). Em EP de exílio, Quinteto Tati!



quarta-feira, 1 de junho de 2011

No Brasil, um bebê faz cocô, em fraldas limpas e vogais fechadas. Já em Portugal, um bebé faz cocó, com choro e acento agudos.

Os Quais

Um escritor, um pintor, e um selo Amor Fúria: eis Os Quais. "Inspiradas, de certa forma, nas melodias de Beatles, Caetano, Variações, Prince, Piazzolla e Donato - artistas que influenciaram, desde cedo, Jacinto e Tomás -, evocam sonoridades quentes, eléctricas, com gostinhos de rock, jazz e bossanova" (Sapo Música, 20/01/09), diz-se sobre o EP Meio Disco. Caídos no Ringue, ou cheios de lero lero, vale sabê-los.



sábado, 28 de maio de 2011

Seus olhos quase fechados, vermelhos, sua fala desencontrada, arrastada, e seu andar descompassado, denunciavam: apanhou uma tosga. Tosga, bebedeira, pileque. A graça e a desgraça de tomar uns copos.

Pé na Terra

Instrumentos tradicionais da música portuguesa, entre percussões, um baixo-eléctrico e uma guitarra electro-acústica: “os Pé na Terra entendem e bem, que o tradicional não se baseia apenas na recolha. Para além de criarem, recriam e homenageiam" (Rádio Universitária de Coimbra - Retirado do Site dos Pé na Terra). O folk com caras novas e tons contemporâneos, em músicas das boas! Pé na Terra.



Em Portugal, cu é bunda, e não ânus. Sem rodeios: cu. Se no Brasil a palavra causa furor, por deixar à vista um furo de que muito nos envergonhamos, por terras lusitanas o monossílabo não é tabu: "mexe este cu!" e "bate-cu" são expressões correntes, que não agravam pudores. O causo já é velho conhecido de brasileiros, mas vale ser lembrado, para que nenhum cu aqui cause embaraços.

Peste e Sida

Punk Rock português da década de 80 - 25 anos de estrada e um EP lançado há pouco. Se antes iam de carocha para o sol da Caparica, hoje, para o entusiasmo da Massa Crítica, vão de bicla. Novos tempos! Peste e Sida.



"O gajo passou a tarde a mandar bitaites", disse-me, chateada com a arrogância parva de quem se arvora a saber de tudo. "Antes houvesse uma prova da Ordem para o exercício dos livres-pensadores", completou com gracejo e ironia. E eu a pensar nos bitaites: de facto, cabem na boca de todos, e a palavra tem um quê de petisco, talvez de bitoque, partilhada sem compromisso em mesa de amigos. Dessas opiniões intrometidas, pouco fundamentadas, vestidas de palpites. No Brasil, tão comum é o dar pitacos. O que acham?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pedro Abrunhosa

Já foi o Rei do Bairro Alto, e com Lenine teve o diabo no corpo. Cantor mainstream, com músicas a se repetirem nas rádios portuguesas: vamos fazer o que ainda não foi feito? Pedro Abrunhosa.



quarta-feira, 25 de maio de 2011

- Fazes tudo às mijinhas, disse-me.

Logo entendi, inclinado que sou a fazer tudo pouco a pouco.

Cuca Roseta

Uma das novas vozes do fado, com os Toranja no currículo. "O fado de Cuca é um fado com clara inclinação para a canção, suficientemente confortável com a sua imagem ao espelho para aceitar que não há promiscuidade alguma em convidar a guitarra portuguesa para a sua intimidade e, ao mesmo tempo, não fechar a porta ao passado pop" (Crítica Ipsilon - Gonçalo Frota). Cuca Roseta.



terça-feira, 24 de maio de 2011

"Sabe bem estar contigo", "sabe bem pagar tão pouco", "sabe bem um gelado neste calor", "sabe bem aquela saia em ti", "soube-me bem ter ido à praia". A expressão, corrente em Portugal, causa algum ruído em ouvidos brasileiros: "sei bem o quê?". Não, não sabes: "sabe bem" é frase de apreço - algo que apetece ou entusiasma. Sabe bem saber bem, então.

Quinta do Bill

"Quinta do Bill é o nome do colectivo folk/rock português formado em 1987. A banda é caracterizada por um estilo próprio, ecléctico, mas facilmente distinguível, com influências diversas, sendo a mais óbvia a da música tradicional celta, muçulmana e ameríndia" (Jornal de Notícias, 19/12/06). Talvez seja. Vai e sê feliz, então!



- Um balúrdio!, protestou, sobre o valor da coima (multa).

Não fossem os bravejos, ou os resmungos nos olhos da cara, a palavra não (me) teria o seu valor exacto. Restou-me concordar: porra, uma puta grana.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Peixe:avião

"Quem não ouve peixe:avião é menos feliz" diz valter hugo mãe. Outros já os compararam com Radiohead, pela "sonoridade" de suas músicas. Exagero? Eis a banda de Braga, muito prestigiada pela crítica portuguesa, peixe:avião.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

"Vi muitos carochas em teu país!". Não, a frase não é ofensa. O Carocha, em Portugal, é o velho e guerreiro Fusca, no Brasil.

Atlantihda

"A história dos Atlantihda é contada por seis músicos e uma fadista. Oriundos dos mais distintos géneros musicais, os Atlantihda viajaram pelo mundo da música nacional e internacional, absorvendo várias influências para se encontrarem num projecto que acabaria por ligar a música de raiz tradicional e rural, com aquela que é a nossa música popular urbana: O Fado" (HM Música). Ei-los:

terça-feira, 17 de maio de 2011

- Chegaste um pinto, pá!

Fosse no Brasil, desconfiar-se-ia uma entrega de sex-shop à porta de casa, e não um rapaz em galochas, ensopado, como um pinto molhado, a se desfazer com a chuva.

Delfins

Depois de 25 anos de estrada, na passagem de 2009 para 2010, em Cascais (cidade onde se formaram), os Delfins se despediram do público. Eis o fim, nada trágico, de uma das principais bandas de pop-rock português dos anos 80/90. Delfins!



Um grande desenhista de quadrinhos (HQ), no Brasil. Um grande desenhador de bandas desenhadas (BD), em Portugal.

Real Combo Lisbonense

Músicas de salão, bailes de clube ferroviário. Som dos bons, em combo sortido, real e lisbonense. Real Combo Lisbonense!



A palavra veio como um susto, contada por amiga de ouvidos curiosos, em conversa sobre nossas línguas: catrapiscar. Catrapiscar. Verbo antigo, quase caduco, desconhecido por muitos portugueses, que já não mais catrapiscam. Hoje, em calão jovem, na (con)descendência moderna do catrapisco, há que diga "bater o couro" (ainda prefiro a catrapiscagem). No Brasil, há muito se paquera.

Catrapiscar, canção catrapiscada de David Antunes, em programa de família, às "5 para meia noite".

sábado, 14 de maio de 2011

Doismileoito

"Doismileoito é resultado de uma banda que se fechou durante meses numa cave, a experimentar música e a ouvir canções. Quando de lá saiu, começou a ouvir os comentários do mundo exterior. E parte do mundo exterior não demorou no diagnóstico: eis os novos Ornatos Violeta, disseram-lhes. E eles, que fazem questão de acentuar o quanto prezam os autores de 'O monstro precisa de amigos', que não se importam que lhes digam que prosseguem num 'caminho que os Ornatos deixaram em aberto', irritam-se porque a comparação lhes parece pouco fundamentada - um reflexo da inexistência de referências para este rock cantado neste português" (Ipsilon, 30/01/09). Doismileoito, por extenso e tudojunto. Ei-los:



Eis o verão, em céu e fonemas. Verão. Em Portugal, o E fraco se esconde tímido, em malemolência de não-pronúncia, à sombra da sílaba tônica: VRÃO – ao contrário do verão brasileiro, em que a vogal átona E, vistosa, exibe-se toda à palavra: VE-RÃO. Assim em FELIZ ("F'LIZ"), PELADO ("P'LADO"), QUERIDO ("QU'RIDO"/"CRIDO"), QUERER ("QU'RER"/"CRER"), OPERAR ("OP'RAR") ou DIFERENTE ("DIF'RENTE”). Diferenças que vêm à tona no dizer de algumas vogais átonas, no Português europeu: reduzidas, como a quererem escapulir, impercebidas, da fala. Eis um traço, no canto da prosódia, que engraça um desencontro de nossas línguas, "f(a)ladas".

Ana Moura

"Falar de Fado, é falar de uma voz límpida e intensa, é falar do que mais de genuíno se faz em Portugal ao som das tradicionais guitarras, sem grande pompa e circunstância, apenas com o sentimento e a paixão presentes. Ana Moura é um bom exemplo do que o nosso país tem para oferecer a todos, numa altura em que corremos as bocas do mundo derivado à nossa situação actual. Natural de Coruche, Ana Moura conta com uma carreira invejável, reconhecida quer em Portugal quer no estrangeiro deixando atrás de si um rasto de salas esgotadas" (Sapo Música, 16 de abril de 2011). Ana Moura!

Espantam-se alguns portugueses com a culinária baiana, em pratos de valer piadas. Bobó, em Portugal, é calão para sexo oral, e "dar uma queca" é trepar, na lasciva brasilidade da palavra. Para ouvidos desavisados, então, "quer um bobó?" talvez pareça convite, enquanto moqueca pode não soar fixe, nem peixe.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

João Coração

Um músico da linhagem AmorFúria/FlorCaveira, "trovador, voluntário, impetuoso, viola ou bandolim em punho, queixo erguido, entra pelos ouvidos e instala-se nos ossos" (Centro Cultural de Lagos - Site). A ver Sofia Coppola, João Coração:



domingo, 8 de maio de 2011

Breve diálogo hipotético de diplomacia:

- Então, tudo sob controle? Pergunta Dilma Roussef.
- Não, nem sob controlo, responde José Sócrates.

Trabalhadores do Comércio

Grupo dos anos 80, com um humor quase escrachado, e um puto (guri/piá) a cantar e tocar. Um "rock irónico para tempos modernos", como também se definem. O rapazinho (João Médicis), na época com menos de 10 anos, hoje está crescido, sem cabelos, e de volta à banda. Os outros (Sérgio Castro e Álvaro Azevedo), já adultos na época, continuam com o grupo, que agora conta/canta com novos braços e vozes. Bué da fixe! Trabalhadores do Comércio!



sábado, 7 de maio de 2011

Antes de chegar a Lisboa, chamavam-me a atenção os encontros consonantais do português europeu: dialecto, recto, acto, objecto, jacto, actual. Em e-mails trocados com uma universidade portuguesa arrisquei-me, então, a manejar os Cs, em consciente desacordo ortográfico, pela vontade de conquistar a simpatia de uma desconhecida, mas muito solícita, funcionária da secretaria. "Gostava de saber sobre o calendário lectivo", "envio o projecto em ficheiro anexo": fartava-me em portugalidades, como um Odorico Paraguaçu a se aventurar em língua estrangeira. Divertia-me, é facto. Houvesse consoantes a pedirem, eu logo remendava - implacável - um vitorioso C. Aguardei a selecção, fui aceite. As informações, muito breve, foram logo enviadas. Sorte. Mais alguns e-mails, desconfio, estaria a perguntar sobre pagamenctos.

Os Golpes

"A banda, oriunda de Lisboa, afirma não só uma forma de fazer música rock muito portuguesa, como vinca uma portugalidade que não se via desde os Heróis do Mar: a iconografia das fardas, a cruz de Cristo, um primeiro teledisco filmado em Alter do Chão (vila alentejana sobejamente conhecida pela sua coudelaria, fundada no século XVIII por D. João V, com vista à criação de cavalos de raça lusitana para a picaria real) e até a utilização da grafia róque e pópe para confirmar esta ideia" (Rua de Baixo, nº 45, junho de 2009). Em "Vá lá senhora", a participação do Herói do Mar Rui Pregal da Cunha. Os Golpes!



No Brasil, expressões como manja?, saca?, sabe?, tá ligado?, viu?, né? (não é?), cutucam o outro como a pedir uma confirmação, silenciosa, de que ele está atento. Eis a função fática da linguagem, a chamar a atenção do interlocutor, amarrando-o à conversa: uma forma de nos certificarmos, no imediato da fala, de que do outro lado há olhos e ouvidos a postos, para mantermos e encaminharmos o discurso. Em Portugal, muito corrente é o uso do estás a ver? (tás a ver?) como cimento de conversação: "ontem fui à Baixa, estás a ver?", "A rapariga estará lá, tás a ver?". A frase é dita em trânsito livre entre o "formal" e o "coloquial", em diferentes sítios (lugares) e momentos, saca? Que estejamos todos a ver os recursos da língua, então, para que dela possamos melhor nos servir, não é?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Caruma

Foi amor à primeira vista. Agora, a fartar-me de ouvir, e "reouvir", com aquele deslumbramento de quem acabou de se encantar com algo novo. "Poderiam ser histórias exclusivas de Alfama ou de Santos, de Marvila ou Bairro Alto, mas não são. Poderiam ser histórias exclusivas de amor engano, de paixão embuste, ou taberna madrugada, mas não são. O território dos Caruma abrange imensas freguesias, e o seu universo é mais amplo que os motes que sugerem. O português vernáculo, escolhido a dedo entre o rico léxico da nossa língua, é aqui irónico, reactivo, mordaz, insinuante, provocador (...)" (Santos da Casa, 13/09/10). Som bom para alimentar a alma, A Caruma!



Um carro descapotável (conversível) para as horas de ponta (horários de pico/horas do rush) até que cairia bem ao céu de Lisboa, não? Mas se se aperceber em síndroma (síndrome) de novo-riquismo, resista e contente-se com um simples trotinete (patinete): talvez uma solução ainda melhor para um fim de tarde em engarrafamentos.

Feromona

Um "indie rock" português, com letras e melodias das melhores. Das bandas que conheci cá, está entre as que mais tocam em meu MP3. "Vais de consulta em consulta / Mas nada disto resulta / E então aderes a outras modas mais em voga / Que convertem gente culta / Juntas-te ao culto do yoga / (...) Psicologia, factor de stress / Esquizofrenia é uma mania / Dá em gente com um ego que aborrece / Há tanta coisa que enlouquece!" (Psicologia). Feromona!



Fixe, porreiro e giro: desconfio que sejam as primeiras palavras lusitanas a entremearem o português brasileiro, no processo de aclimatação da fala. Parecidas com maneiro, da hora, massa, tri ou legal, aparecem aos montes, misturadas ao texto verde e amarelo dos "brazucas", como um pidgin de calões a mestiçar enunciados. "Cara porreiro!", "fixe, mano!": não raro são as misturas em falas migrantes. Eis a graça das línguas, das trocas, dos contactos. Giro, meu!

Uxu Kalhus

Estilos ao liquidificador, em uma mistura boa de adjetivos. Música tradicional-folk-rock, com influências afro-jazz-ska: "Malhão, Viras, Corridinhos, círculos, mazurcas, chotiças, e muito mais, com a pureza acústica e a potência eléctrica. Harmonias arrojadas e arranjos endiabrados são a imagem de marca do grupo" (blog Uxu Kalhus). Uxu Kalhus!



"Água fresca ou natural?", perguntou-me a senhora. Fresca e natural eram para mim, até aquela sede, palavras muito próximas. Peixes e legumes frescos são quase naturais, não? Talvez um pouco mais frios, mas ainda não gelados. Tivesse perguntado "gelada ou normal?", a resposta viria natural, sem titubeios.

José Mário Branco

José Mário Branco é um dos grandes autores/cantores de músicas de intervenção em Portugal. Assim como José (Zeca) Afonso, suas músicas guardam críticas contra o Estado Novo português, contra instituições, planos, regimes, em letras - por vezes censuradas - (re)cantadas sempre em rodas de amigos. Cantava o "Zé Mário", em refrão que ainda não se deu por vencido: "FMI! Não há truque que não lucre ao FMI / FMI! O heróico paranóico harakiri / FMI! Panegírico, pro-lírico daqui" (FMI). José (Zé) Mário Branco!



- O que achas?
- Estou cheia de pica!
- Então vamos, mas não repitas isso no Brasil, combinado?
- A viagem?
- Não, a pica.

Em Portugal, pica ainda não é dada à ambiguidades: é, sem constrangimentos, pique. Cheio de pica é expressão comum, que - em almoço de família - não profana qualquer tabu da língua. Pica, também, é o senhor que passa a conferir, e a picar, os bilhetes (passagens/vales) nos comboios portugueses. Picas. Enquanto no Brasil já é um tabuísmo dicionarizado ("pênis/pinto"), em Portugal há quem vá cheio de pica para o sol da Caparica.

GNR

Não é a Guarda Nacional Republicana, tampouco os Guns N' Roses: os GNR, a banda portuguesa, são o Grupo Novo Rock. "São um dos mais carismáticos emblemas do campeonato musical português. Apesar de terem sido dos últimos a irromper do boom que foi o novo rock português, nos anos 80, os GNR (sigla polémica para Grupo Novo Rock) rapidamente ganharam um lugar de destaque no panorama pop português, que até à última década sempre se manteve muito frágil" (Rua de Baixo, nº 36, outubro 2006). Banda portuense de Rui Reininho, GNR! (Efectivamente escuto as conversas, aparentemente sem moralizar...)



Pode parecer ultraje, mas o chiclete que os portugueses mastigam não é igual ao meu. E não porque o meu chiclé faz ploc, e o deles faz bum, mas pela forma como aqui o pedem ao seu Mané do bar: pastilha elástica.

Carlos do Carmo

Talvez o mais renomado intérprete de fado ainda vivo - sua voz é um registo da cidade e uma ótima banda (trilha) sonora para se conhecer uma tradicional Lisboa, entre eléctricos, sardinhas e casas de fado: "Lisboa, menina moça, amada / Cidade mulher da minha vida". Ao vivo do Coliseu dos Recreios, Carlos do Carmo.



Futebol é o esporte, ou desporto, nacional. No país de Cristiano Ronaldo, goleiro é guarda-redes, equipe é equipa, trave é poste, pênalti é penálti, camisa é camisola, torcida é claque e torcedor, adepto. Ao redor do relvado (gramado), correm os apanha-bolas (gandulas) como putos (piás, guris) em disparada rua abaixo. No ponto alto da partida - o gol - em Portugal grita-se golo: e gol contra é lamentado como auto-golo. Em dias de jogo, é comum ser dito "ir à bola", ou "ver a bola", daí a expressão "ir à bola com" como afirmação de apreço, simpatia ou admiração - como a um bom amigo a quem confiamos a companhia para os jogos do Benfica - ou a sua negativa "não vou à bola com isso" ("não vou com a cara disso"). Das TVs ligadas, e da malta a comemorar entre Imperiais e sofás, os gritos de golo ressoam pelas frinchas das ruelas. Então, a saudade dos rojões, das vidas em barulho a torcer pelo Corinthians, e do vizinho a quase perder a voz, talvez a vida, pelo São Paulo, ê o.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Carlos Paião

Uma carreira curta, mas com muitas coisas boas deixadas. Tido como um dos grandes "cantautores" da década de 80. Músicas que alegram a alma. "Em playback tu és alguém / Mesmo afónico cantas bem...". Carlos Paião!

- Para quando é a leitura do texto? Perguntei.
- Pra semana. Responderam-me.
Assustei-me, eu que só funciono às vésperas.
- Não é para a próxima semana?
- Sim, pra semana.

Pois, "pra semana", em terras portuguesas, é "para a próxima semana" (a ti parece óbvio?). Assim como "para o ano" ("para o próximo ano"). Estás a ver? "Adeus... até pra semana!". Eu reservo-me ao mentiroso, porém simpático, "até amanhã".

UHF

Rock português dos anos 80, com EPs lançados ainda há pouco. A banda que é Benfica ("Sou Benfica!"), para o desgosto dos sportinguistas, ainda conta - e canta - com uma grande claque (torcida). UHF!



A rudeza da palavra escroto, em Portugal, pode causar um grande estranhamento: "que gajo escroto" é frase descabida, descombinada, que provável não se ouvirá de algum português. Mais raro é ouvir o termo em sentido positivo, como acontece em algumas regiões do Brasil: "o show foi muito bom, do caralho, escroto mesmo!". Escroto, cá, é como glande ou uretra, que mais se prestam aos sentidos da literatura médica. Urologias à parte, evocações na conta da semiose. Se te não agradar, distinto leitor, invoque-se em calão brasileiro, e confirme: "este texto é escroto pra caralho". Ou, em ares lusitanos, "um ganda vomito, pá!"!

Buraka Som Sistema

Wegue! Wegue! Wegue! A batida eletrônica, a levada do Kuduro. O grupo português, cheio de sons e acentos angolanos, que faz a malta (galera) pular. Bababa, nhenhenhe, dudududu, hei! De Buraca (uma freguesia de Amadora, na grande Lisboa): Buraka Som Sistema!



Há alguns dias, em festa de amigo, um gajo de sorrisos largos e olhos já caídos, rendido pelo copo, meteu-se a imitar brasileiros: "estão me enchendo no saco, me enchendo no saco!". O desencontro da preposição salvou a piada - o "no" solto na frase deu a graça do despropósito. "Encher o saco" não é frase corrente em Portugal, onde mais se "chateia": "estás a chatear, pá, com tuas parvoíces!".

terça-feira, 3 de maio de 2011

Samuel Úria

"Eu próprio fui muito influenciado, apesar de me libertar disso, pelo Grunge. (...)Ouvi muito Grunge durante a minha formação musical e depois comecei a ouvir Blues, o Rock mais antigo, o Folk, Leonard Cohen, Country, Jonnhy Cash e na música Portuguesa o Variações, os Heróis do Mar e os GNR na parte da escrita, muito cómica, cheia de figuras de estilo do Rui Reininho, não sei se foi uma influência, mas sempre gostei muito de o ouvir e ler." (Samuel Úria, em entrevista para O Beirão Online - 19/07/10). As influências estão postas: da linhagem FlorCaveira, Samuel Úria!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O tão querido vira-lata, em Portugal é chamado cão rafeiro. O apelido (alcunha), que ladra carinho e malandragem, cá vira piada: vira-lata.

Heróis do Mar

Quando um grupo de amigos portugueses relembra a infância (ou juventude) dos anos 80, Heróis do Mar é uma das (des)memórias que vêm à tona. "Heróis do mar", além do ufanismo que lhe cabe, é o primeiro trecho do hino de Portugal ("Heróis do mar, nobre povo / Nação valente, imortal / Levantai hoje de novo / O esplendor de Portugal"): às armas, meus caros, às armas! Uma partezinha da estética musical dos anos 80, para nós. Ei-los.

Piriguete, cachorra, vadia ou biscate. Ainda há mais um punhado de sinônimos, e outros tantos sotaques, para esses desaforos. Em Portugal, diz-se badalhoca - algumas vezes, bardajona. Defina-as como bem (im)pedir a tua lucidez, a tua moral, o teu machismo, o teu ciúme ou a tua inveja.

Maria João

Enquanto Paco re-encontra Igor, em Terra Estrangeira (de Walter Salles e Daniela Thomas - prepare o Torrent e a pipoca!), uma fadista canta "Estranha Forma de Vida" (tão conhecida na voz de Amália Rodrigues): eis Maria João. Seus laços com o Brasil continuam em re-gravações de músicas de Nando Reis, Chico Buarque, Lenine e Los Hermanos. Até os Afros Sambas ganharam um acento português. Sob a Ponte 25 de abril, a não andar com os pés no chão, canta Beatriz. Maria João!

domingo, 1 de maio de 2011

- Teu prédio é o marrom, não?
- É o castanho.
- Sim, o marrom?
- O castanho.

Basta saber de cor: em Portugal, é raro o uso da palavra marrom - mais se usa castanho. Para olhos, cabelos, roupas ou fachadas.

Madredeus

Teresa Salgueiro, a voz que por muito tempo marcou os Madredeus, hoje segue carreira solo. Mas o projecto, agora Madredeus & A Banda Cósmica, continua com outros son(are)s. Talvez uma das bandas portuguesas mais conhecidas no Brasil, e em outros pomares de laranjeiras!

Hoje, em Portugal, é o Dia da Mãe. Primeiro domingo de maio: da mãe. A falta do "s" nos causa (a nós brasileiros) uma singular estranheza, acostumados que estamos com o Dia das Mães. Mas as prendas, compras, anúncios, são as mesmas. Felicidades a ela, e a elas, pá!

sábado, 30 de abril de 2011

Pluto

Banda portuense formada por Manel Cruz (Ornatos Violeta, Foge Foge Bandido), Peixe (Ornatos Violeta), Ruka e Eduardo. Rock português contemporâneo dos mais bem cotados. Bom dia, Pluto!

Mete-me imensa confusão, ainda, quando oiço (ouço) alguém falar em pizzas. A tão paulistana "pítsa" (paulistanizada por usucapião), em Portugal ganha os ares de "piza". "Piza", sem assobios: pizaria, Piza Hut, piza de queijo com orégãos (orégano). Os zz estão sempre (a) postos mas, enquanto no Brasil nos silvam /ts/, cá se entoam /z/. Desencontros de Tele-pizza. Em São Paulo ou Lisboa, o grafema (zz) é sempre o mesmo - já a palavra-dita, em seu acento (sotaque) próprio, refaz-se com a origem do (tele)fonema.

Macacos do Chinês

O hip hop (diz-se, em Portugal, "ip-óp") dubstep pop, com guitarras portuguesas, da Amadora, região metropolitana da grande Lisboa. Macacos do Chinês! (Vale notar a participação do "Chato", ao fim do vídeo). Yo! =)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Talvez com muito esforço, e alguns despachos, um bebé (bebê) poderá ser registado (registrado) como Aguinaldo, em Portugal. E não adianta protestar ao notário: onomástica é questão de lei. Alessandra, Elisangela, Giovana, Cleusa? Esqueça. Mas poderá se chamar Felicíssimo, ou Cinderela, se aos pais soar bem. Isso porque, em terras de D. Manuel, o registo dos miúdos em cartório é autorizado, ou desautorizado, por uma lista de nomes (im)possíveis. Ao contrário do Brasil, onde nem o Céu - que, assim como Anjos, só é permitido "como segundo elemento do nome, precedido da particula do(s)" – é o limite para a engenhosidade dos pais, em Portugal há uma série de restrições no "nomear" dos filhos, para a sorte ou infortúnio dos pequeninos. Entre tantos Felipes, Nunos e Manuéis, brasileiros são reconhecidos (e caricaturados) por seus nomes (!) estampados em crachás, ou listas de presença. Por ora. Oxalá o dia em que um português se chamará, de facto, Rérisson - Rérisson Ford.

Para quem interessar, eis a lista dos vocábulos admitidos e não admitidos como nomes próprios em Portugal, retirado do Instituto dos Registos e do Notariado.

Rádio Macau

Diz Flak, o guitarrista do grupo formado no início dos anos 80, sobre o nome da banda: "Tínhamos dois amigos que eram irmãos, os beatniks do Algueirão, mais velhos que nós, muito bem formados e cultos. Gostávamos deles porque nos davam informação. Naquela altura era difícil arranjar música ou livros e eles tinham muita coisa em casa. Eles foram viver para Macau e um deles tinha um programa de rádio na Rádio Macau. Um dia, estávamos no café com um problema: tínhamos de escolher um nome novo e vimos uma aparição. O Tozé [um dos beatniks do Algueirão] de cabelo comprido e barba, parecia Jesus Cristo, com uma t-shirt com uns símbolos chineses que dizia Rádio Macau. Ficámos com o problema resolvido". Mas (r)emenda Xana, vocalista: "A parte chata é que eu não gosto de comida chinesa e, por causa do nome, as entrevistas de promoção eram sempre em restaurantes chineses" (Blitz, Rádio Macau em entrevista a Mário Rui Vieira, 28/03/2008). Eis uma das principais bandas de pop/rock português dos anos 80/90: Rádio Macau!

As roupas talvez se pareçam. Aparências, caras: caretas. A presunção engomada na camisa pólo, o ar "certinho" e blasé das colunas sociais. Bom moço, bem comportado, "respeitador". No Brasil injustiçaram os Maurícios, em Portugal, os Betos. Mauricinhos ou Betinhos, que (assim) sejam.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Cabaret Fortuna

PopSkaRock recém saído do forno. Um quê alegre e divertido, e um álbum de estréia lançado há pouco: "Amor e coisas parvas". O bar é aberto!

A língua, em sussurros, ao seu ouvido: estou-me a vir, estou-me a vir! Entregue em brasilidade, ele a alcançava: vou gozar! As falas se afinavam apenas no grito das vogais. O despudor também é dado a costumes: "vou gozar?", ela achou piada; "estou-me a vir?", ele, poesia. Na n(m)udez dos corpos, os silêncios se entendiam.

Rui Veloso

Com 30 anos de carreira, Rui Veloso é aclamado por alguns como o pai do rock português; outros, evitando a pretensão do título e usando alguma piada, já o chamaram de tio do rock português. "Rui Veloso é o mentor de grandes êxitos musicais como Chico Fininho, Porto Covo, Não Há Estrelas No Céu, A Paixão, entre muitas outras grandes músicas que marcaram os portugueses (...)" (Blog Páginas Amarelas). A música "Não me mintas" é parte da banda sonora (trilha sonora) do filme Jaime (1999) - ei-lo, em cenas gravadas na cidade do Porto.

Foi o Manel, à mesa com amigos, quem disse: vamos encher o bandulho! Mastiguei a dúvida e alguns rissóis (risoles). Panados (empanados), gambas (camarões), queijos, sandes (sanduíches), cola (coca), tartes (tortas) e doces: a dúvida tirou-me a barriga, empanturrada com novas palavras.

domingo, 24 de abril de 2011

Dazkarieh

Música tradicional? Folk? World music? "Após um caminho de dez anos de vida, os Dazkarieh conseguiram criar um som inconfundível. É o som do passado pelos instrumentos antigos e acústicos e é o som do presente que se ecoa quando se transforma em distorção pura. É a tradição portuguesa, mas também uma tradição dos nossos dias que provocam uma explosão sonora, ainda que plena de intimismo. Quatro músicos em palco são o elo de ligação entre passado, presente e futuro. É uma viagem pelo imaginário sonoro de Portugal e do Mundo e uma energia avassaladora que não deixa ninguém indiferente" (Festa do Avante, release). Dazkarieh!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma noite se (es)vai em piadas quando, entre brasileiros e portugueses, traduções são postas à mesa. Traduttore, traditori, não? Talvez: facto é que as "traições" se tornam gargalhadas, e entornam ferrenhas discussões, quando retratadas aos copos.

O Padrinho, daqui, provoca risadas quando citado em versão verde e amarela: O Poderoso Chefão. Brasileiros se entreolham constrangidos, como a ver o rei nu, no silêncio resignado de quem então se dá conta. O Poderoso chefão tem lá a sua piada, rendemo-nos, e que nos desculpe Don Corleone.

Regresso ao futuro (De volta para o futuro), O rapaz do pijama às riscas (O menino do pijama listrado), Velocidade furiosa (Velozes e furiosos), Up - Altamente (Up - Altas aventuras), Homens que matam cabras só com o olhar (Os homens que encaravam cabras) ou Um eléctrico chamado desejo (Um bonde chamado desejo) são títulos que se reconhecem. Chovem almôndegas (Tá chovendo hambúrguer), À boléia pela galáxia (O guia do mochileiro das galáxias), A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo (A menina que brincava com fogo) ou mesmo Sacanas sem lei (Bastardos inglórios) são títulos que se desconfiam. O problema é quando, no emaranhado de filmes e livros, é posto em (des)caso a A mulher que viveu duas vezes. (...?). Sim, "Vertigo, de Hitchcok", assopra alguém. "Ah, Um corpo que cai!". Gargalhadas. E voltam-se aos copos.

Camané

Um dos mais renomados fadistas contemporâneos. "Este é o senhor fado que nasceu para contar histórias de miseráveis apaixonados e infelizes boémios elevando a voz, tornando maior que tudo o que, no momento, a rodeia. E fá-lo com uma invejável expressão de contentamento. A noite de sexta-feira fica documentada como a sua estreia em nome próprio no Coliseu dos Recreios. Mas quando canta, juramos que a história e a tradição da sala também lhe pertencem" (Diário de Notícias, 18/04/11).

Em 2004, junto com outros artistas portugueses (como David Fonseca e Manuela Azevedo), participou do projecto Humanos, que reviveu músicas inéditas de António Variações. Camané!

Curioso é reparar o estranhamento que causam algumas palavras quando ditas entre amigos portugueses. Palavras "quase naturais", que nos são tão comuns (o pronome nos, aqui, é verde e amarelo), fazem se levantar sobrolhos. Então que confirmamos o tanto de brasilidade em nossa língua.

Já próximo da última passagem de ano, comentei com amigos alfacinhas (quem nasce em Lisboa) que a cidade - em seus invernos úmidos - é a verdadeira terra da garoa: os dias passam quase todos a garoar. Garoa? Nublaram-se em interrogações. Pois: chuva molha parvos (ou molha tolos), por cá. Garoa é palavra brasileira, que aqui se desconfia ser um tipo de peixe, uma fruta ou um objeto qualquer, quando solta desavisada. Garoa. E pouco adianta dizer que é o contrário de toró.

Outro verbo que, há poucos dias, descobri causar estranheza é botar. "O que eu boto para este jantar?". A pergunta, também, faz se arregalarem sobrancelhas. Pôr, vestir, usar. Eu boto, tu botas, eles botam, pá!

Mariza

Fado mainstream, para exportação. Uma das fadistas portuguesas ("luso-moçambicana") mais prestigiadas nacional e internacionalmente, entre as principais porta-vozes do "patrimônio português" no além-mar. Sem dúvida, mais uma das "grandes"! Mariza!

No ecrã (tela, ou monitor, em nosso português brasileiro) de meu portátil, as variações da língua acenam aos montes. No Facebook, a página inicial já me lembra que estou em Portugal: "Vais sair? Mantém-te ligado(a). Visita o Facebook no teu telemóvel" (outrora, amigavelmente, o site me avisava: "Está saindo? Continue conectado(a). Acesse o Facebook em seu celular"). Já estou registado (cadastrado) e, levado aos dedos o automatismo, digito liturgicamente o e-mail e a palavra-passe (senha) que há anos me segredo. Eis-me no contraditório on-line das redes sociais. Uma caixa de texto me pergunta: "em que estás a pensar?" (o bom e velho "no que você está pensando agora?"). Cá não se curte uma publicação: se gosta (ou não gosta). O bate-papo é chat. Bah. Procuro a configuração de conta, clico com o rato (mouse) em idiomas, e vou ter com os gerúndios de minha terra.

Mafalda Veiga

Para tardes de sol, ou noites de ficar à toa com música leve. Como uma boa comédia romântica, que nos distrai com sorrisos passageiros. Mafalda Veiga!

Os sabores são outros, onde estivermos. Em Portugal, há cerveja com sabor a chocolate, preservativos com sabor a morango, gelados com sabor a baunilha. O a, anteposto à sabor, é comum no Português europeu, diferente do uso brasileiro, em que comumente se antepõe um de (sabor de chocolate, sabor de menta, sabor de hortelã ) ou se faz uso não preposicionado (sabor menta, sabor chocolate, sabor hortelã). Enquanto nas embalagens de Ruffles, no Brasil, estampam-se sabor churrasco, em Portugal se estampam sabor a presunto. Cada variação tem lá a graça de seu sabor.

António Variações

"Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou (...)", dizia. Uma figura que "dava nas vistas pela maneira como se vestia", ex-cabeleireiro, definido por alguns - a princípio - como "folclórico", cabia mais exactamente naquela descrição do "completamente diferente", que poucos se arriscam categorizar. Talvez o Trumps, uma das "baladas" de que mais gostei em Lisboa (ha!), seja hoje careta se comparado à época em que era palco de António Variações, e viveiro de uma certa "vanguarda" de antanho. Portugal, ali (início dos anos 80), ainda na ressaca das várias décadas de ditadura, tinha mais um ânimo de modernização. "Toma o comprimido! Toma o comprimido! Toma o comprimido que isso passa!".

Recentemente, um projecto reuniu importantes artistas portugeses (como Manuela Azevedo, dos Clã, David Fonseca e Camané) para a gravação de músicas "inéditas" de Variações: os Humanos. Vale conhecê-los, vale conhecê-lo!


Antes de vir para Portugal troquei alguns e-mails com uma moça alemã, em terras paulistanas. O seu Português era quase língua nativa, escrita corrida sem sotaque, não fosse alguns imensos a entrecortar palavras. "Gostei imenso de conversar (...)", "quero imenso saber (...)". Imenso? Achei, àquela altura, que fosse uma dessas pequenas imprecisões na fala de estrangeiros. Em Lisboa, ê pá!, percebi que imenso é palavra corrente, em uso adverbial, na fala de muitos portugueses. "Ontem choveu imenso", "o Tiago fala imenso". Eu, com aquele deslumbramento breve pelas afinações das línguas, empolguei-me - claro - imenso.

domingo, 17 de abril de 2011

Noiserv

Sem dúvida, um dos mais "criativos e estimulantes" projectos musicais de Portugal que conheço. David Santos: Noiserv!

- Toda a gente foi para ali!
- Todo mundo?
- Não sei se o mundo todo, mas toda a gente.
(Em momentos de bullying linguístico entre amigos brasileiros e portugueses).

Cristina Branco

"No ano em que o fado é candidato imaterial da humanidade (o tango e o flamenco já o são), Cristina Branco gaba-lhe a universalidade: "Quando canto um fado, seja em Lisboa ou Buenos Aires (...), sinto-me alguém que canta sentimentos do Mundo, tão válidos numa taberna do Cais do Sodré como no abrigo de montanha de uma cordilheira nepalesa. Por isso o fado será naturalmente património da humanidade" (Correio da Manhã, 20/02/11). Neste vídeo, Cristina Branco canta "Canção de Embalar", uma música linda de Zeca Afonso, com a licença do fado.

Eu gostava de saber o teu nome, se faz favor. Dito assim, em pretérito imperfeito, a olhar para mim. Gostava? Causou-me grande confusão: no Brasil ainda somos afeitos ao gostaria. Cá, em terras lusitanas, o gostaria soa demasiado polido, daquela fala enroscada em formalidades. Gostava que me enviasse um e-mail, gostava de saber de ti, gostava de ter contigo amanhã. Se, no Brasil, o pretérito imperfeito se bagunça com o futuro do pretérito - tantas e tantas vezes - no caso do verbo ir (se pudesse eu ia/se pudesse eu iria) ou fazer (se desse eu fazia/se desse eu faria) , em Portugal é o que se dá, entre outros, com o verbo gostar. Dessas "naturalidades" nossas que estranhamos nos outros. E que fique cada um com os seus imperfeitos.

Quim Barreiros

Entre as grandes universidades portuguesas, as festas mais esperadas, comumente, são as festas das Semanas Acadêmicas: festas em que os finalistas se despedem da faculdade e os caloiros celebram um novo estatuto. Acontecem, geralmente, ao fim do ano lectivo, entre abril e maio. Em Coimbra há a tradicional Queima das Fitas; em Braga (onde fica a Universidade do Minho), o Enterro da Gata; em Lisboa e em algumas outras cidades do país são chamadas Semanas Acadêmicas. São cortejos, "liturgias", festas, intervenções...

Entre os artistas mais aclamados nestas festas está um senhor de bigode, com o seu chapéu e acordeão, chamado Quim Barreiros. As suas músicas "pimbas", cheias de piadas e infâmias (ha!), levam milhares de estudantes ao coro: "ponho o carro, tiro o carro, a hora que eu quiser, que garagem apertadinha, que doçura de mulher!". Ei-lo!

Entre pacotes de arroz e vidros de azeitonas, em um mercado ao lado de casa, lembrei-me do papel higiênico. "Onde?". Avistei uma mocinha de avental verde, à espera de uma pergunta. No intervalo entre a intenção e a fala, um despensamento atravessou-me breve: "papel higiênico é uma daquelas palavras que cá mudam, como penso rápido (band-aid)". Fácil, era o tal de penso a palavra variante - lembrava-me de ter visto algures palavra parecida. Seguro, sem titubear, perguntei: "por favor, onde estão os pensos higiênicos?". A menina, muito solícita, dirigiu-me a alguns corredores ao lado: "aqui", e apontou a prateleira próxima ao chão. (...). "Ali", e o seu dedo insistia em ficar rijo. (...). "Desculpa, não vejo". Ela, muito atenciosa, agachou e me entregou um pacote de absorventes. "Penso higiênico". Sorri, peguei o pacote de pensos, ou absorventes, dirigi-me a outro corredor com o olhar convicto de quem divide intimidades com a namorada, encontrei um pacote de "folhas duplas, doze rolos" e, como que acometido por uma repentina mudança de idéia, recoloquei os absorventes na prateleira. Ainda sorri para a mocinha, com um aceno de obrigado.

Foge Foge Bandido

Projeto solo de Manel Cruz (Ornatos Violetas e Pluto), que afirma: "O Foge Foge Bandido foi um namoro de acasos, descobrir a música das pessoas e não dos músicos e atribuir ao tempo a tarefa de seleccionar o material. Foi tentar ao máximo expressar o processo, com a consciência, claro, de que o acaso se estende ao próprio entendimento desse processo e de que se calhar não percebi nada" (Manel Cruz para o Diário de Notícias de 12/04/10). Eu também percebi muito pouco, mas o nome é bem giro! Foge Foge Bandido!

Um passeio entre prateleiras de mercado sempre me faz crer que nossas línguas portuguesas se (des)encontram nas mais pequenas diferenças, em trocas de letras ou acentos: o amaciador (amaciante) para usar em roupas, os brócolos (brócolis) frescos, os pães de forma sem côdea (casca), as massas para esparguete (espaguete), as fatias de fiambre (presunto) para a tosta mista (misto quente), os pacotes de tostas (torradas) para comer com queijo-creme (um quase requeijão), as várias marcas de lixívia (cândida), detergentes para lavar loiça (louça), as caixinhas de natas (creme de leite), as sementes de sésamo (gergelim). Letras trocadas, sons trocados: poucos cêntimos (centavos) em um universo de palavras comuns.

sábado, 16 de abril de 2011

Baile Popular

Apenas seguimos uma matriz que é a música popular, mais concretamente a do povo alentejano. Daí que a paisagem do sul se cruze neste disco com universos que vão desde o nordeste brasileiro, até à roulote estacionada algures no deserto americano, como explica João Monge" (Jornal de Notícias, 23/06/10). Uma mistura agitada, que faz os pés bailarem aos pés da cadeira. Baile Popular!

Há quem deite papel na sanita, há quem jogue papel no vaso: se o autoclismo avariar, disfarce, e saia da casa de banho como quem apenas lavou as mãos. Se perguntarem quem descumpriu o aviso, quebrou a descarga e entupiu a privada, diga que não percebeu (entendeu) o verbo deitar, em seu uso lusitano - em minha terra, deitar fora é dormir na rua.

Toranja

Ex-banda de Tiago Bettencourt, conhecida no Brasil entre os arredores de Los Hermanos. Toranja!

Bué. Bué da fixe, bué caro, bué bonita. Bué. Eu já avistara a palavra em livro de Ondjaki, mas achava ser gíria calú (de Luanda), fechada em Angola. Em Portugal, porém, não demora uma esquina para se ouvir - em algum grupo de jovens - alguém dizer bué, entre gandas, fodas e fixes. Bué, palavra curta, explosiva, transita entre adjetiva e adverbial nas falas dos mais novos. A origem é confusa, imprecisa: discussão etimológica a nos arrendar horas. Do Francês falado pelos refugiados do Zaire em Angola - beaucoup - ou do advérbio quimbundo buí (muito), o bué já marca na fala portuguesa um traço de Angola. Bué interessante!

José (Zeca) Afonso

Reconhecido por muitos como o maior compositor e cantor de Portugal. Canções de intervenção e músicas "de esquerda" que marcaram as décadas de 60 e 70. Sua voz, suas letras e suas melodias, são associadas aos movimentos de resistência ao regime salazarista, em lutas pela democratização do país. José (Zeca) Afonso é "leitura obrigatória" para se conhecer melhor a história contada - e cantada! - de Portugal.

"Grândola Vila Morena" é uma das músicas associadas ao "25 de abril" (a Revolução dos Cravos, que pôs fim ao Estado Novo português): a sua transmissão pela rádio Renascença, à madrugada do dia 25/04/1974, sinalizou a confirmação do "golpe" e o início das investidas militares. "Em cada esquina um amigo / Em cada rosto igualdade / Grândola, vila morena / Terra da fraternidade".

Um nome tão rebuscado para algo tão pequenino: rebuçado. "Senhor, quero o troco em rebuçados". Algumas vezes me esqueço e, na pressa do falar, peço o troco em balas.

Os Pontos Negros

"Os Pontos Negros aparecem com esta coisa bilingue: um roque enrole que, ora se canta em português, ora dá vontade de assobiar. Naturalidade da melodia, simples alegria de se fazer música (...)" (Metro News).

Há alguns dias machuquei-me no joelho. Perguntavam-me: magoou-se? Percebi, então, a brasilidade da palavra machucar. Em Portugal, mais se magôa que se machuca. "O Hugo magoou-se no joelho". A ferida abriu em mim um certo lirismo: restava-me uma mágoa a doer pelo corpo.

Clã

A primeira banda portuguesa que conheci, de facto, ainda no Brasil. Os Clã. Rosa Carne e lusoQUALQUERcoisa foram boas trilhas sonoras para o trânsito de São Paulo. As parcerias com Pato Fu (uma das grandes bandas brasileiras, para mim) foram das mais felizes. Neste clipe, Fernanda Takai e Manuela Azevedo, juntas, a fazer amuos.

Em Portugal, fazer bicos para ganhar dinheiro pode não ser uma frase muito feliz. Talvez os teus amigos portugueses olhem para ti com um sorrisinho no canto da boca, e digam alguma qualquer sacanagem. Sim. Por estas terras, fazer bico é, sem meias palavras nem grandes pudores, fazer boquete. Assim como bróche. Na hora de se tentar um troco, todo cuidado é pouco.

David Fonseca

Canta em inglês, como outros tantos intérpretes em Portugal, mas a sua fama fez-se no país. Eis um dos membros do projeto Humanos, em suas "baladas" pop-rock-discoteca. Disco de Ouro, um quê de galã-descolado... porreiro, pá!

No Brasil, chávena nos soa palavra antiga, empoeirada, digna de romances do século XIX ou de visitas à casa da avó. Preferimos xícara. Em Portugal, para muitos, xícara é palavra antiga, com cheiro de bolor. Prefere-se chávena. Pronto. Uma chávena de sumo de dióspiro ou uma xícara de suco de caqui: seja qual a frase, serás servido com a mesma bebida.

Jorge Palma

Outro do time dos grandes artistas portugueses, com quase 40 anos de "estrada". Jorge Palma. No clipe a seguir, o cantor "se encosta" a um punhado de artistas portugueses bastante prestigiados: o número de rostos familiares pode servir como um bom indicador, para nós, do (des)conhecimento da indústria cultural lusitana. Eis um exercício. Encosta-te a ele, e boa sorte.

A "tia Eleonora", já nos primeiros anos de escola, nos ensina (uma próclise depois de vírgula, ó céus!) que nunca, nunca, podemos dizer mim fazer ou mais pequeno. Se o fizermos, arderemos no fogo das desgramaticalidades, junto com os "índios". Pois bem, mais pequeno é expressão corrente na variante formal da língua, em Portugal. Textos acadêmicos, falas de pessoas "cultas", comunicados oficiais, não raro estampam o mais pequeno, sem qualquer olhar escandalizado. Assim como, cá, comumente é usado mil milhões para se referir a bilhões. A TSF Rádio Notícias, em matéria sobre a manipulação de objectos à escala atômica, anuncia no título: "Um mundo mil milhões de vezes mais pequeno que o metro". Paladinos da "língua culta", tremei.

B Fachada

Desses compositores "geniais", com letras pouco ortodoxas. Lançou um álbum, há pouco, para os miúdos - "B Fachada é pra meninos" - que se propõe a ser "um claro manifesto a favor da desobediência e da deseducação". "B Fachada reflete e diz: 80 por cento da cultura que as crianças e jovens consomem é para adultos. Os outros 20 por cento que lhes restam estão ao nível do politicamente correto insultuoso" (Jornal Expresso, 27/12/10).

"B Fachada É Pra Meninos sintoniza a mesma onda e, em registo de Comelade-Playmobil (com baterias de plástico e tudo) que, só aparentemente, se desvia dos álbuns anteriores, alinha interpelações morais (Porque é que o bom é melhor que o mau? Porque é que o mal é pior que o bem? Porque é que é certo ser cara de pau mas está mal ser filho da mãe?), miminhos de avô sábio (antes louco e malcriado que pensar só de emprestado) e faz regressar o mítico João, sem balão, mas com mais pertinente aconselhamento: Larga a sopa João, não comas mais, não dês ouvidos às mentiras dos teus pais". Um desses artistas raros.

Um breve engano em ligação luso-brasileira:
- !
- Alô?
- Tô sim!
- Alô, quem está falando?
- Ê, pá! Estás a falar com o Nuno!
- Nuno? Desculpa, acho que liguei para o celular errado!
- Celular, ó menina? Celular? Cá dizemos telemóvel!
- Desculpa, acho que liguei para o telemóvel errado: é nove-meia-três-dois...?
- Meia, menina? Vocês brasileiros estão sempre a dizer meia! Desculpe lá, mas é seis, menina, seis!
- Seis, certo. Mas não é esse o número, é?
- Não é, menina, não é. Ligaste para o número errado!
- Ok. Estou entrando em um túnel, está me ouvindo?
- Não percebi, peço desculpas: estás a entrar...?.
- Ai, desencana. Não está entendendo.
- Ó menina, não percebo! Caraças, estás a gozar?
- Não senhor, desculpe o engano, tchau.
- Pá, adeus.

OqueStrada

Um "fado de subúrbio", em cores de avivar a alma. A "levada" da Tasca Beat, do "lado de lá" do Tejo! OqueStrada, hei!

Pen Drive é menininho ou menininha? Tem pipi? (Vale lembrá-los de que, no Brasil, enquanto os pais dizem em português-brasileiro aos seus filhos homens para lavarem o pipi, em Portual pipi é o que se esconde nas cuecas das menininhas: sim, cá cuecas são objetos femininos - calcinhas, em bom brasileiro - e pipi é a tal periquitinha, ou qualquer outro eufemiso pudico para acarinhar na língua as "vergonhas" das mocinhas). Pois bem, perguntar sobre pipis pode causar uma confusão maior. Sejamos directos, então. Pen Drive, em Portugal, ao contrário do Brasil, é fêmea: "a Pen Drive". Eis a tal aleatoriedade da desinência de gênero. Ou seja, os artigos que definem - ou indefinem - uma palavra estrangeira, em Português, consagram-se pelo uso: se no Brasil jogamos "o Playstation", em Portugal joga-se "a Playstation". Em textos institucionais, a rede Mc Donald's, em verde e amarelo, firma-se no masculino; em terras lusitanas, coloca-se no feminino (embora muitos amigos portugueses digam "o McDonalds"). E agora, José?

Sérgio Godinho

Um dos grandes: daqueles que ganha um dos dedos das mãos, quando nos é pedido para listarmos os principais cantores/compositores da música portuguesa. Mais de 30 anos de carreira, parcerias com outros grandes artistas de cá (como José Mario Branco e outros tantos) e de lá (como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Zeca Baleiro...), entre EPs, álbuns, bandas sonoras (trilhas sonoras), incursões pelo cinema, etc. Ainda hoje a "surpreender" com suas letras e músicas, e a aparecer em projectos ao lado de cantores da "cena contemporânea". Canções para ouvir "com um brilhozinho nos olhos".