quinta-feira, 23 de junho de 2011

Fosse no Brasil, soaria dialeto caipira (saloio), pronúncia de fala desprestigiada: aluguer - assim como azur (azul), papér (papel) ou mér (mel), que marcam falares não valorizados de grupos específicos do país. Chicrete, bicicreta, Creusa: escandalizam-se os paladinos da "língua culta". Questões de registo (registro), classes e poder. E então, aluguel ou aluguer? O rotacismo do L (em R), metaplasmo comum na fala "popular" brasileira, e em tantas outras línguas, consagrou-se em palavra dicionarizada no português europeu - aluguer/alugueres (aluguel/aluguéis). A língua-rio a se (trans)formar. Aluguer: em São Paulo, fala estigmatizada, piada em bocas preconceituosas; em Lisboa, ortografia oficial, fiada por cânones gramaticais e imobiliários. Que seja, então, mais um pobrema, entre brasileiros e portugueses, Oswalds e Camões, para repensarmos as cobranças do "bem falar".

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