sexta-feira, 1 de julho de 2011

"E o Acordo Ortográfico?", perguntaram-me. Respondo: "pouco me interessa". Uso hífens ao acaso, acentuo por preguiça. Para, pára, para-raios, pára-raios, pararraios? Raios. Escrevo amnistia (anistia), e também fato (facto): minha indulgência é a possibilidade de dupla grafia. As consoantes mudas, não articuladas (actor, óptimo, exacto), dispenso por brasilidade, ou as reforço por preciosismo. Maiúsculas, minúsculas, circunflexos, agudos, confio-me a negligência da intuição, sem as exigências normativas da "reforma" - que me perdoe Antônio Houaiss. Encanto-me não por ortografiquices, mas pelos desacordos fonéticos, sintáticos e pragmáticos de nossos portugueses: pronúncias, calões, expressões correntes, usos vocabulares. Eis o que diferencia, e caracteriza, as nossas línguas. Eis o que me (en)leva.

Lusofonias são questões políticas, e econômicas (ou económicas), que devem ser discutidas no terreno conflituoso das várias ciências sociais - e para lá emigro quando quero conversá-las. Lá. Peço licença, então, para - nestes posts - fugir do imbróglio diplomático e me divertir com as diferenças entre um gambá e uma doninha-fedorenta, uma bolinha-de-gude e um berlinde, um chapéu-de-chuva e um guarda-chuva, sem me preocupar com as novas regras de hifenização, tampouco com a correcção da grafia "antiga" ou com a crítica ao colonialismo às avessas do mercado editorial brasileiro. Talvez a graça esteja, nestas linhas, em discutir pentelhos. A isto, presto-me aqui.

Que assim seja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário